O desenvolvimento de septicemia neonatal em potros é uma consequência comum
da placentite ascendente. A presença de sepse tem sido associada com diversas
desordens metabólicas, incluindo desregulação no metabolismo da glicose, do cálcio
e do lactato. Entretanto as alterações bioquímicas demonstradas por estes potros
logo após o nascimento e a sua relação com a sobrevivência não estão
completamente esclarecidas. A utilização de parâmetros bioquímicos mais
específicos durante as primeiras horas de vida pode ser útil para a realização de um
diagnóstico precoce de sepse e pode auxiliar no estabelecimento de um prognóstico
para estes potros. Este trabalho teve por objetivo avaliar os parâmetros bioquímicos
de potros nascidos de éguas submetidas à indução experimental de placentite
ascendente, durante as primeiras 48h de vida, relacionando estes parâmetros
bioquímicos com a presença de sepse e com a sobrevivência destes animais. Foram
utilizados 35 potros neste estudo. O grupo controle foi composto por sete potros
saudáveis, nascidos de éguas sem alterações clínicas e gestacionais. Vinte e oito
potros nascidos de éguas submetidas à indução experimental de placentite
ascendente foram divididos em dois grupos de acordo com o escore de sepse em
potros não sépticos (n=19) e potros sépticos (n=9). Os potros nascidos de éguas
com placentite foram classificados ainda de acordo com a sobrevivência em
sobreviventes e não sobreviventes. Foram coletadas amostras de sangue venoso no
momento do nascimento (até 10 minutos após o parto), com 12, 24 e 48h de vida.
Os níveis séricos de glicose, lactato, triglicerídeos, colesterol, ureia, creatinina,
bilirrubina total, bilirrubina direta, bilirrubina indireta, proteínas plasmáticas totais
(PPT), fibrinogênio e gama glutamiltransferase (GGT) foram mensurados. Os dados
obtidos foram expressos em mediana e intervalo interquartil. Foi realizada análise de
variância e comparação entre as médias pelo teste LDS. A comparação entre o
índice de sobrevivência foi realizada através do Teste Exato de Fisher. Ao
nascimento os valores de glicose e GGT foram menores nos grupo séptico [37
mg/dL (16,5-47,5); 23 UI (17,5-26,5)] e no grupo não sobrevivente [41 mg/dL (2466);
23 UI (17,5-24,5)]. As concentrações de lactato, ureia, creatinina, triglicerídeos e
colesterol foram maiores nos potros sépticos durante as primeiras 48 horas. Potros
não sobreviventes apresentaram maiores concentrações de lactato, triglicerídeos e
colesterol em relação a potros sobreviventes nas 48h. Potros sépticos nascidos de
éguas com placentite ascendente demonstraram alterações no metabolismo
energético, caracterizado por elevações nos níveis de triglicerídeos e colesterol e
hipoglicemia ao nascimento, e redução na atividade da enzima hepática GGT, com
elevação dos valores de lactato e ureia durante as primeiras 48h de vida. Com
relação à sobrevivência observamos que potros não sobreviventes apresentaram
menores valores de glicose e GGT durante as 48h de vida e elevadas
concentrações de lactato, triglicerídeos e colesterol. Marcadores bioquímicos como
glicose, triglicerídeos, colesterol e GGT podem ser utilizados como indicadores de
comprometimento já ao nascimento e da presença de sepse, e podem ser utilizados
como fatores prognósticos em potros doentes.