A partir do momento que a Antropologia passou a inserir a temática das crianças em seus
estudos, muitos textos referentes ao assunto foram produzidos, complexificando as
contribuições já existentes em outras áreas de conhecimento como a Psicologia, Direito,
Sociologia, História e Educação. A proposta desta dissertação é dialogar com os referenciais
produzidos e contribuir com as abordagens relacionadas ao processo de socialização de
crianças indígenas kaiowá da Vila Cristina, o município de Amambai/MS. A análise
empreendida foi uma tentativa de compreender como ocorre o processo de socialização das
crianças kaiowá da Vila Cristina, na qual foram utilizadas metodologias específicas para a
investigação com/sobre crianças, como desenhos, redações, fotografias e observação
participante. Além disso, foi necessário ouvir as crianças, uma vez que nesta pesquisa elas são
vistas como sujeitos sociais que desempenham um papel ativo na compreensão, elaboração,
transformação e construção da sociedade onde estão inseridas. O processo de socialização das
crianças Kaiowá residentes na vila Cristina em Amambai/MS ocorre em variados espaços que
o promovem, desde o âmbito doméstico aliado ao entorno que envolve as crianças. O âmbito
doméstico compreende a socialização na família, na casa de parentes, no cuidados com outras
crianças, brincadeiras, e nos afazeres cotidianos como cuidar dos irmãos mais novos e buscar
água, enquanto o entorno está representado pelas reservas indígenas, escola, parques da
cidade, pastoral da criança e no contato que estabelecem com outras crianças indígenas e não
indígenas, cujos saberes são produzidos e transmitidos de maneira horizontal. Pode-se afirmar
que as crianças Kaiowá estão sujeitas a um processo amplo e variado de socialização, no qual
são agentes ativas, autônomas e participantes, sendo necessárias outras etnografias realizadas
em contextos urbanos para compreender a perspectiva das crianças como portadoras e
transmissoras de conhecimentos.