Érico Veríssimo legou à biblioteca da literatura brasileira uma obra ficcional copiosa. Contudo, o fecho de sua contribuição encontra-se no campo do memorialismo, com o livro, em dois volumes, Solo de clarineta. Poderíamos chamá-lo de um fecho imperfeito, uma vez que a morte, energicamente, interrompeu seu intento de seguir escrevendo, com a sua prolixidade peculiar, acerca dos fatos vividos. Frente a esse quadro, objetivando elaborar uma tese propositiva, subdividimos nossa abordagem em três partes. A primeira reúne o “álbum de família” e o “álbum de viagem”, procurando fazer um sobrevoo que conjugue algumas das recordações de Érico sobre sua vida na companhia de pessoas e lugares. A segunda concentra-se em sua biblioteca, orquestrando leituras de formação, de confirmação e contribuições do próprio escritor às estantes da literatura brasileira. A terceira e última parte procura estabelecer uma comparação entre os escritos de memória e os escritos de ficção, para isso, por meio da metáfora do espelho, aproxima ao limite o que se encontra separado em definitivo pela película de vidro refletora, que podemos chamar de discurso da arte. Por meio dessa divisão em três partes, procuraremos promover um movimento de emparedamento do memorialista no romancista. Desse modo, nossa discussão se encaminha para a defesa do argumento de que, ao final de sua carreira, Veríssimo se transforma, via memorialismo, em personagem de si mesmo, procurando com isso lhe proporcionar uma imortalidade, via literatura, que a sua própria constituição biológica só lhe poderia negar.