Cachorros-do-mato (Cerdocyon thous) figuram entre os animais selvagens mais assistidos em centros de reabilitação, tornando imperioso ampliarem-se conhecimentos sobre parâmetros morfofisiológicos próprios à espécie. Na presente pesquisa, avaliaram-se as condições oftálmicas de 16 cachorros do mato (n=32 olhos). No estudo clínico, avaliaram-se oito indivíduos, sob contenção química, à teste lacrimal de Schirmer I (TLS I), à tonometria digital de aplanação (PIO), à microscopia especular de não contato (espessura corneal, densidade, área e hexagonalidade celulares endoteliais corneais), à ultrassonografia em modos A e B (biometria, notadamente o diâmetro axial, a profundidade das câmaras anterior e vítrea, e a espessura da lente) e à eletrorretinografia (amplitudes e tempos implícitos de ondas a e b, nas fases escotóptica e fotóptica). Córneas, colhidas post mortem, de outros oito animais, foram avaliadas à histologia, quanto às espessuras da córnea e do epitélio, e aos parâmetros de birrefringência (que informam sobre agregação e orientação) de fibras lamelares colágenas estromais, empregando-se morfometria, luz polarizada e “software” de análise de imagens. Parâmetros de birrefringência foram quantificados como níveis de cinza médio (GA). Em relação ao TLS I e a PIO, verificaram-se valores médios de 13,37±0,94 mm e 10,43±0,96 mmHg, respectivamente. A espessura corneal média foi de 0,53±0,01mm. Relativamente às células endoteliais corneais, os valores médios de densidade e de área foram, respectivamente, de 2.850,38±137,28 cell/mm2 e de 389,00±0,17 μm2. O valor médio de hexagonalidade foi 60,06±4,66 %. Em relação à biometria, verificaram-se valores de 15,93±0,28 mm para diâmetro axial, de 3,29±0,14 mm para profundidade de câmara anterior, de 6,02±0,11 mm para espessura da lente e de 6,61±0,21 mm para profundidade da câmara vítrea. À eletrorretinografia, na fase escotóptica de baixa amplitude, os valores médios de amplitude e de tempo implícito da onda b (adaptação de 20 min) foram 87,33±5,36 μV e 73,10±1,12 ms, respectivamente. Na fase escotóptica de alta amplitude, os valores médios de
amplitude e de tempo implícito da onda a foram 56,67±9,13 μV e 13,13±0,93 ms, respectivamente. Em relação à onda b, os valores de amplitude e de tempo implícito foram 238,70±15,10 μV e 42,70±3,99 ms, respectivamente. Na fase fotóptica, os valores referentes à amplitude e ao tempo implícito da onda b, para cones, foram 48,67±6,17 μV e 22,47±1,81 ms, respectivamente. Quanto ao cone “flicker”, os valores de amplitude e de tempo implícito da onda b foram 22,67±1,76 μV e 22,93±0,68 ms, respectivamente. Na histologia, as espessuras da córnea e do epitélio corneal foram 0,54±0,04 mm e 60,0±30,0 μm, respectivamente. À microscopia de luz polarizada, observou-se estroma corneal com fibras colágenas onduladas, de brilho heterogêneo e dispostas direções espaciais preferenciais. O valor médio de GA foi de 121,35±0,07AU. De acordo com os resultados obtidos, admite-se serem equivocadas as extrapolações dos parâmetros estabelecidos para espécies domésticas, relativamente à espécie Cerdocyon thous. Reforça-se, portanto, a importância do conhecimento de parâmetros morfofisiológicos das diversas espécies de animais selvagens a fim de se subsidiarem procedimentos diagnósticos e terapêuticos adequados.