Introdução: O critério de Milão (CM) vem sendo utilizado como padrão para
indicação do transplante hepático (TxH) por hepatocarcinoma (HCC) em todo o
mundo, há quase 20 anos. Diversos centros têm adotado critérios expandidos
com o intuito de aumentar o número de pacientes candidatos ao TxH,
mantendo bons índices de sobrevida. No Brasil, desde 2006, o critério de
Milão/Brasil (CMB), que desconsidera nódulos menor que 2 cm, é adotado,
incluindo maior número de pacientes com nódulos pequenos. O objetivo deste
estudo foi avaliar o resultado do transplante hepático de acordo com o CMB e a
forma de controle da fila de espera, enquanto os pacientes aguardam pelo
transplante. Métodos: Foram analisados os prontuários dos pacientes com
HCC submetidos ao TxH na cidade de São Paulo, entre 2007 e 2011, em
relação à recidiva e sobrevida. Foram comparados os exames de imagens préoperatórios
com o anatomopatológico do fígado explantado (BX) e sua relação
com o resultado dos transplantes. Resultados: Em 414 TxH por HCC, a
sobrevida em 1 e 5 anos foi de 84,1 e 72,7%. Destes, 7% atingiram o CMB
através de Downstaging, com sobrevida em 1 e 5 anos, de 93,1 e 71,9%. O
grupo de pacientes do CMB que excedeu o CM (8,6%) teve sobrevida de
58,1% em 5 anos. Não houve diferença estatística na sobrevida entre os
grupos CM, CMB e Downstaging. A invasão vascular (p < 0,001), tamanho do
maior nódulo (p = 0,001) e n de nódulos maiores que 2 cm (p = 0,028) se
associaram com recidiva. A idade (p = 0,001), sexo feminino (p < 0,001), MELD
real (p < 0,001), invasão vascular (p = 0,045) e o n de nódulos maiores que 2
cm (p < 0,014) estiveram associados a piora na sobrevida. Os exames de
imagem diferiram da BX em cerca de 30% dos casos. 11,3% dos pacientes
transplantados estavam fora do CMB de acordo com a BX. Conclusões: O
CMB aumentou em 8,6% as indicações de TxH e apresentou índices de
sobrevida semelhantes ao CM. A margem de erro na indicação e
acompanhamento na fila de espera foi de 11,3%.