Objetivo: Analisar o uso de onze corantes naturais para facilitar o descolamento do vítreo posterior (DVP) e a remoção da membrana limitante interna da retina (MLI) durante cirurgias vitreorretinianas em olhos humanos cadavéricos. Métodos: Vitrectomia a “céu aberto” com descolamento do vítreo posterior e remoção da membrana limitante interna da retina foi realizada em 86 olhos de cadáveres até 24 horas após óbito. Após a remoção do vítreo cortical, onze corantes diferentes foram injetados na cavidade vítrea para auxiliar no descolamento do vítreo posterior e remoção da membrana limitante interna. Os corantes permaneceram depositados na mácula por 5 minutos sendo removidos juntamente com o vítreo posterior e o vítreo residual, por aspiração mecânica e corte com a sonda do vitreófago (Accurus, Alcon, EUA). Após a remoção do vítreo posterior, os corantes foram novamente injetados para facilitar a remoção da membrana limitante interna, ficando depositados por mais 5 minutos antes da aspiração com a sonda do vitreófago. Para remoção da membrana limitante interna, pinças intraoculares foram utilizadas, e tanto os olhos como a membrana removida foram enviados para análise histológica por microscopia óptica. O corante de antocianina a partir do fruto do açaí (Euterpe oleracea), bem como 10 corantes adicionais a partir dos seguintes frutos ou animais foram testados: romã (Punica granatum), campeche (Haematoxylum campechianum), extrato de clorofila da alfafa (Medicago sativa), cochonilha (Dactylopius coccus), hibisco (Hibiscus rosa-sinensis), índigo (Indigofera tinctoria), pimentão (Capiscum annuum), açafrão-da-terra (Curcuma longa), taiúva (Maclura tinctoria) e uva (Vitis vinifera). A capacidade dos corantes naturais em facilitar o descolamento do vítreo posterior e da membrana limitante interna foi comparada à capacidade das substâncias consideradas padrão-ouro para tais finalidades: vítreo posterior (triancinolona) e membrana limitante interna (indocianina verde). Estes dois últimos foram testados como padrão-ouro para esse procedimento em olhos humanos, tendo sido testados previamente em olhos cadavéricos para possibilitar modelo comparativo nos olhos do estudo. Resultados: Os corantes naturais facilitaram o DVP e a remoção da MLI. Extrato de açaí (Euterpe oleracea), campeche (Haematoxylon campechianum), cochonilha (Dactylopius coccus) e taiúva (Maclura tinctoria) facilitaram a criação do descolamento do vítreo posterior em todos os casos; a indução do descolamento do vítreo posterior com esses corantes foi considerada semelhante à indução do descolamento realizado com a triancinolona. Extrato de açaí (Euterpe oleracea), cochonilha (Dactylopius coccus) e extrato de clorofila da alfafa (Medicago sativa) mostraram a melhor capacidade para o tingimento da membrana limitante interna. A remoção da membrana com esses corantes foi semelhante à realizada com indocianina verde (ICV). A microscopia óptica confirmou a remoção da membrana em todos os casos. Conclusões: Antocianinas a partir de fruto de açaí (Euterpe oleracea), bem como os corantes de cochonilha (Dactylopius coccus) e extrato de clorofila da alfafa (Medicago sativa) resultaram numa melhor capacidade de tingimento da membrana limitante interna; campeche (Haematoxylon campechianum), cochonilha (Dactylopius coccus), taiúva (Maclura tinctoria) e açaí (Euterpe oleracea) foram úteis para manobra do descolamento do vítreo posterior. Tais corantes poderão, no futuro, ser ferramentas úteis nas cirurgias vitreorretinianas, facilitando o DVP e a remoção da MLI.