Na presente pesquisa, buscamos investigar como professores de português conciliam os aspectos formais e discursivos quando avaliam a produção escrita escolar. Especificamente, objetivamos identificar as concepções de língua, texto e avaliação dos professores analisados, como eles dimensionam e executam critérios de avaliação e como é marcado, no texto escrito do aluno, o trato com o formal e o discursivo. A fim de compreendermos nosso objeto de estudo e analisarmos os dados coletados, nos apoiamos em Antunes (2003); Geraldi (1991,1996); Marcuschi (2006); Suassuna (2004, 2010, 2011), no que diz respeito à concepção de língua e ensino de português, em Bakhtin (2004) e seus estudos sobre o funcionamento discursivo da linguagem, e na ideia de avaliação enquanto discurso (HADJI, 2001; PERRENOUD, 1999, SUASSUNA, 2004). A pesquisa foi do tipo qualitativa e teve a participação de duas professoras do ensino médio de duas escolas: o Colégio de Aplicação da UFPE e uma escola de referência de ensino médio do estado de Pernambuco. Coletamos dados através das observações de aulas das duas professoras, da análise de textos avaliados pelas docentes e das entrevistas semiestruturadas. As observações foram feitas no sentido de investigarmos as concepções de língua, texto e avaliação que norteiam as práticas das professoras, os critérios que serão utilizados para a avaliação escrita e os procedimentos didáticos para o ensino da produção de texto. Na análise dos textos avaliados pelas docentes, apoiando-nos nas categorias de correção do texto escolar propostas por Ruiz (2001), procuramos perceber as marcas escritas deixadas nos textos dos alunos, como os critérios de avaliação eram observados na prática avaliativa e como foram feitas, diante dos textos dos alunos, as considerações acerca da forma e do discurso. Nas entrevistas buscamos confrontar os dados até então obtidos e analisados, fazendo novas discussões acerca de avaliação e formação docente. A professora A, a nosso ver, percebe a avaliação como um processo atrelado à prática de aula, e portanto relaciona seu planejamento didático à proposta de produção de texto. Os critérios de avaliação, elaborados pela professora A, são construídos em sala e discriminados antes de acontecer a escrita. Na avaliação, a docente demonstra conciliação entre a forma e o discurso, enxergando-os como partes interdependentes para a produção de sentido. Quanto à professora B, esta apresenta um trato pouco equilibrado entre a forma e o discurso quando avalia os textos dos seus alunos: ora ressalta e comenta um desses aspectos, ora outro. Também percebemos que a professora B não estabelece, entre os alunos, os critérios com os quais irá avaliar, o que repercutiu negativamente na produção dos discentes. Além disso, sua sequência de atividades didáticas não se relacionou diretamente à produção de texto. Descobrimos que esses pontos de divergência entre as duas professoras apontam que a avaliação e o ensino da produção de textos estabelecem uma clara relação com a formação inicial e continuada, com as condições físicas, políticas e pedagógicas da escola e com o trato com a elaboração e uso de materiais didáticos para o ensino de língua portuguesa. Outros resultados da pesquisa apontam que embora seja muito claro para as professoras que é preciso observar o texto do aluno para além do formal, e que a intervenção docente deva ser no sentido de levar o aluno a perceber a forma a serviço do discurso, ainda é desafiadora a conciliação, na prática avaliativa, entre esses dois aspectos.