Este estudo teve como objetivo pesquisar a ocorrência e diversidade molecular de
coronavírus em codornas e galinhas criadas nas mesmas propriedades e em codornas
criadas em propriedades isoladas, para determinar o papel das codornas como
reservatório para o vírus da bronquite infecciosa das galinhas (IBV). Para isso, duas
pesquisas foram realizadas, uma em 2013, no estado de São Paulo, Sudeste do Brasil,
onde algumas granjas iniciaram a vacinação em codornas contra o IBV com o sorotipo
Massachusetts, após um estudo realizado em 2009-2010; e a outra, em 2015, em duas
regiões do Norte da Itália. No estudo brasileiro, foram coletados pools de aparelho
reprodutor, pulmões, rins, traqueia e conteúdo entérico de codornas (Coturnix coturnix
japonica) e galinhas com histórico de manifestações clínicas compatíveis com a
Bronquite Infecciosa das galinhas (BIG). Por outro lado, no estudo italiano, as amostras
foram coletadas em forma de pools de swabs traqueais e cloacais e intestino/conteúdo
entérico de codornas (Coturnix coturnix) com sinais entéricos. Estas amostras foram
testadas para os coronavírus aviário (Gammacoronavirus) mediante uma semi-nested
RT-PCR dirigida a região não-traduzida 3’ (3´UTR). As amostras positivas foram
submetidas a RT-PCR do gene codificador da proteína RNA-polimerase RNAdependente
(RdRp) e duas RT-PCRs, incluindo uma multiplex dirigidas a proteína de
espícula (S) do vírus da BIG, para genotipagem. Além disso, a detecção de
metapneumovírus aviário (aMPV) e o vírus da doença de Newcastle (NDV) também foi
realizada por meio de RT-PCRs. Coronavírus aviários foram encontrados em todos os
tipos de amostras estudadas em codornas e galinhas de todos os tipos de criações,
aMPV subtipo B foi encontrado em galinhas (Brasil) e o NDV não foi encontrado em
nenhuma amostras. Com base nas sequências de DNA para o gene codificador da
proteína RdRp, as amostras brasileiras e italianas foram agrupadas no gênero Gammaou
Deltacoronavirus, enquanto que, em uma amostra brasileira, foi detectada coinfecção
pelos dois gêneros. A filogenia com base nas sequências parciais da
subunidade S1da proteína de espícula, evidenciou que os Gammacoronavirus
detectados nas codornas brasileiras e italianas pertencem ao genótipo Brasil e 793/B,
respectivamente. Estes resultados sugerem que as codornas são suscetíveis aos
coronavírus do gênero Gamma e Delta e os coronavírus aviários das codornas
compartilham genes de espícula idênticos aos do IBV. Desta forma, sugere-se que as
codornas podem servir como reservatórios para coronavírus aviários e que a vacinação
com o sorotipo Massachusetts não foi eficiente no controle de IBV nas codornas
brasileiras.