A espécie Escherichia coli é uma bacilo Gram negativo, fermentador, que habita o trato intestinal de animais de sangue quente, em uma relação de comensalismo, ou simbiose. No entanto, cerca de 10 % das E. coli adquiriu características patogênicas podendo causar infecções tanto intestinais, quanto extraintestinais. As E. coli diarreiogênicas (DEC) compreendem diversos patotipos, entre os quais as E. coli patogênicas intestinais (EPEC), sub-grupadas em típicas (contendo o plasmídeo EAF) e atípicas (sem pEAF). As E. coli patogênicas extra-intestinais (ExPEC) não possuem patotipos definidos, mas são
frequentemente denominadas pelo seu sítio de isolamento, sendo as mais frequentes: UPEC (E. coli uropatogênica), NMEC (E. coli causadora de meningite neonatal), SEPEC (E. coli de septicemia). A distribuição filogenética de E. coli tem mostrado guardar relação estreita com o seu potencial de virulência. Assim, as ExPEC são primordialmente originárias dos grupos filogenéticos B2 e, menos frequentemente, D; enquanto as DEC são referidas como oriundas do grupo B1, com algumas exceções. E. coli é uma espécie particularmente receptiva à aquisição de DNA por meio de transferência horizontal de genes. Este fato é, sem dúvida responsável pela diversidade de patotipos apresentados pela espécie. No
entanto, não há conhecimento abrangente sobre a presença de determinantes genéticos de virulência compartilhados entre DEC e ExPEC, nem tampouco sobre a distribuição filogenética dos diferentes sorotipos de DEC. Este trabalho estudou 64 cepas de EPEC e 51 de EIEC de diferentes sorotipos quanto á sua distribuição filogenética e a presença de 21 marcadores genéticos de virulência de ExPEC, além de marcadores de Ilhas de Patogenicidade (PAIs). Os resultados obtidos mostraram que EPEC origina-se
primordialmente dos grupos B2 (56 %) e B1 (42 %), sendo as atípicas concentradas em B1 (77 %) e as típicas em B2 (65 %). Diferentemente, as EIEC distribuem-se entre A (49 %), E (29 %) e B1 (18 %). EPEC apresentou cinco marcadores de virulência de ExPEC com frequência maior do que 50 % (fimA, ompA, ompT, traT e chuA), enquanto EIEC apresentou os marcadores iha, ompA, traT e sitA e, em menor frequência fimA, irp2 e chuA. Ambos os patotipos apresentaram marcadores para PAIs de UPEC, e com maior frequência a associação das PAIs IJ96 e IICFT073. A PAI HPI foi detectada em apenas 17 % das EPEC, sendo todas EPEC típicas do grupo B2, à exceção de uma cepa. Ao contrário, em EIEC HPI ocorreu em 92 % das cepas e distribuída nos grupos A e E. Essa distribuição de grupos filogenéticos, bem como de marcadores de virulência esteve, na grande maioria das vezes, relacionada de forma estreita com sorogrupos e/ou sorotipos tanto em EIEC como em EPEC. Outros estudos são necessários para se demonstrar o papel dos marcadores de virulência encontrados na patogenicidade dos dois patotipos de DEC aqui estudados.