Desde 2003, a agroindústria sucroenergética brasileira (ASB) tem vivenciado expressivas
transformações, associadas por um lado ao ressurgimento do etanol como alternativa aos
combustíveis fósseis, especialmente num contexto global de crise energética e climática e, por
outro, à intensa reconfiguração patrimonial do setor cuja marca fundamental tem sido, nos
últimos anos, a internacionalização do complexo. Para compreender esse processo, a tese
constrói um marco teórico e histórico que serve como referencial para situar a análise das
tendências atuais, inserindo-as, assim, num movimento de longo prazo da economia e da
política brasileiras, destacando-se o relevante papel do Estado na configuração das condições
de acumulação de capital na agroindústria canavieira, não apenas no passado, mas ainda hoje.
Portanto, entende-se que a internacionalização desta agroindústria, hoje denominada de
„sucroenergética‟, é a resultante de mudanças que envolvem tanto a internacionalização do
capital e a globalização econômica, quanto a construção de uma nova matriz de inserção
global ativamente elaborada por dentro do próprio Estado brasileiro (espaço estratégico das
disputas entre as diversas frações do capital) pela redefinição do padrão de acumulação a
partir da década de 1990, quando iniciam: (i) uma forte virada para a liberalização e
desregulamentação econômica no plano doméstico e (ii) um alargamento do espaço global de
acumulação, especialmente pela guinada para a financeirização da economia, no plano
externo. A resultante desse processo se reflete no predomínio do grande capital transnacional
na agroindústria sucroenergética, tanto na produção de açúcar, etanol, energia elétrica e outros
produtos derivados da cana-de-açúcar, quanto na comercialização nacional e internacional de
suas principais “commodities”. Da mesma forma, são analisados os arranjos políticoinstitucionais
setoriais construídos ao longo das últimas duas décadas e meia, sublinhando as
continuidades e descontinuidades com relação ao passado e as diversas formas em que o
Estado continua a ocupar um lugar central na sustentação da ASB. A internacionalização do
complexo sucroalcooleiro transformou as relações entre Estado e agroindústria canavieira,
introduzindo novos atores, dinâmicas e escalas na disputa política. A tese busca dar uma visão
panorâmica destas transformações e se insere no conjunto de reflexões e pesquisas que
historicamente tem debatido o lugar da agroindústria canavieira na economia e na política
nacionais.