INTRODUÇÃO: Tem sido sugerido que o tabagismo compromete a aptidão
cardiorrespiratória e os músculos esqueléticos. No entanto, o nível de atividade física na
vida diária (NAFD) pode ser um fator de confusão importante, pois estudos anteriores
são baseados na avaliação de auto-relato ou baseados em questionários. Assim, é
necessária uma avaliação do NAFD mais precisa para confirmar os efeitos deletérios do
tabagismo na aptidão física. HIPÓTESE: Testamos a hipótese de que a aptidão física
está comprometida em tabagistas sem obstrução ao fluxo aéreo, em seus principais
domínios (i.e. aptidão cardiorrespiratória, função muscular, equilíbrio e composição
corporal), apesar da presença de NAFD adequado avaliado por meio de acelerometria
triaxial. OBJETIVOS: Avaliar e comparar os principais domínios da aptidão física em
adultos fisicamente ativos, tabagistas e não tabagistas. Avaliamos também o
comportamento sedentário e sua correlação com a função pulmonar dos participantes
tabagistas. MÉTODOS: Vinte oito adultos tabagistas e 38 adultos não tabagistas
pareados por idade, sexo, índice de massa corporal (IMC), composição corporal e risco
cardiovascular foram avaliados. Os participantes também foram pareados pelo tempo
gasto em atividade física moderada e vigorosa após o uso de um acelerômetro triaxial
por sete dias. Apenas os voluntários que atingiram as recomendações mínimas de pelo
menos 150 min/semana de atividade física moderada a vigorosa foram incluídos. Eles
realizaram espirometria, teste de exercício cardiopulmonar (TECP) em esteira rolante,
teste de caminhada de seis minutos (TC6), função muscular isocinética do membro
inferior e superior, equilíbrio postural em uma plataforma de força e composição
corporal por impedância bioelétrica. A normalidade das variáveis foi avaliada pelo teste
Kolmogarov-Smirnov. As variáveis contínuas foram comparadas pelo teste t de
Stundent, e a correlação por meio do coeficiente de correlação de Pearson ou Spearman.
RESULTADOS: Respectivamente, tabagistas e não tabagistas apresentaram tempo
semelhante gasto por semana em atividade física moderada (mediana, 4,5 h: intervalo
interquartil, 3,6 – 6,2 vs. 4.0 h: 3,5 – 5,3) e vigorosa (0,06 h: 0,03 – 0,16 vs. 0,07 h: 0,04
– 0,16). Apesar disso, os tabagistas apresentaram pior volume expiratório forçado no
primeiro segundo (91 ± 13 vs. 97 ± 13% pred.). Os tabagistas apresentaram piores
resultados no TECP (pico de V’O
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, 92 ± 14 vs. 102 ± 16% pred.; frequência cardíaca
máxima, 88 ± 9 vs. 94 ± 6% pred.) e no TC6 (99 ± 14 vs. 106 ± 12% pred.). A função
muscular também se mostrou reduzida nos tabagistas. Os flexores do joelho
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apresentaram menor pico de torque a 60°/s (47 ± 31 vs. 60 ± 26 Nm), trabalho total a
60°/s (200 ± 156 vs. 273 ± 153 kJ) e trabalho total a 300°/s (548 ± 470 vs. 825 ± 516
kJ). Os extensores do antebraço apresentaram menor trabalho total a 60°/s nos
tabagistas (169 ± 132 vs. 226 ± 113 kJ), assim como os flexores do antebraço, que
apresentaram pior pico de torque a 300°/s (25 ± 9 vs. 30 ± 9 Nm). Observamos
tendência de pior equilíbrio em apoio bipodal com os olhos fechados nos tabagistas (p =
0,08). Os tabagistas passaram mais tempo deitados por semana em comparação aos não
tabagistas (8,2 h: 5,4 – 19,1 vs. 6,1 h: 3,7 – 11,2). CONCLUSÃO: O NAFD apropriado
avaliado por acelerometria triaxial não preveniu os efeitos deletérios do tabagismo sobre
a aptidão física, especialmente na aptidão cardiorrespiratória e função muscular
periférica. Nossos resultados sugerem que indivíduos tabagistas apresentam maior
comportamento sedentário associado à pior função pulmonar a despeito da ausência de
inatividade física.