As abelhas Apis mellifera são importantes animais domésticos da cadeia produtiva de alimentos, de produtos terapêuticos e fundamentais no processo de polinização de angiospermas, sendo responsáveis, direta ou indiretamente, pela produção de dois terços dos alimentos que consumimos. Após o episódio da CCD (colony collapse disorder) em 2006, o mundo tem sido alertado sobre o risco da diminuição ou mesmo o desaparecimento de insetos polinizadores. Estudos e monitoramentos implantados por vários países demonstram que a perda de colônias durante o outono e inverno tem sido a principal causa relacionada à diminuição de abelhas melíferas que ocorrem em regiões de clima temperado. A participação de patógenos como o parasita Varroa destructor, microsporídios, vírus, fatores nutricionais, manejo de colmeias e o uso de agrotóxicos são apontados como fatores envolvidos no complexo sistema perda de colônias. A nosemose, causada por Nosema apis e, mais recentemente, por Nosema ceranae, é reconhecida como doença de abelhas Apis mellifera da linhagem europeia (European honeybee - EHB). No Brasil, a apicultura está fundamentada em abelhas africanizadas (africanized honeybee - AHB) e estudos recentes têm demonstrado a presença do agente Nosema ceranae nessas abelhas. Dada a carência de dados relacionando esse agente com a perda de colônias que ocorre na Região Sul do país durante o outono e inverno, o objetivo deste estudo foi verificar o papel da Nosema spp. na perda de colônias de abelhas durante o outono-inverno em condições de campo da Região Metropolitana de Curitiba. Para comprovar a hipótese do envolvimento desse agente, foi delineado um estudo longitudinal prospectivo envolvendo 116 colônias de 07 apiários comerciais divididos em três grupos, conforme a forma de suplementação alimentar fornecida: sem suplementação, suplemento pastoso e suplemento líquido. Em um apiário as abelhas foram coletadas mensalmente durante um ano para determinar a distribuição anual da infecção. Os demais apiários foram analisados nos meses de maio a agosto de 2014 para verificar a infecção por Nosema e as perdas de colônias durante o período. Outras variáveis como a infestação por Varroa, o número de operárias que carregavam pólen e a produção de mel das colmeias também foram avaliados. As análises demonstraram a presença do agente Nosema em todos os apiários e na maioria das colônias do estudo, sem sazonalidade. Entretanto, apiários suplementados com alimentação líquida apresentaram maior número de esporos, mas sem interferir na perda de colônias durante o período e no subsequente estoque de mel nas colmeias do apiário. Durante o período analisado, a infestação por Varroa em operárias forrageiras diminuiu enquanto o transporte de pólen aumentou em todos os apiários avaliados. A caracterização genotípica por PCR multiplex demonstrou o envolvimento da espécie Nosema ceranae em todas as infecções e, em alguns casos (8,6%), também da Nosema apis. Análises histopatológicas comprovaram a infecção de órgãos intestinais de abelhas operárias. Conclui-se que o nível de infecção não teve influência direta na perda de colônias que ocorre durante o outono e inverno e não alterou o subsequente estoque de mel das colmeias. O número de indivíduos infectados foi a causa das variações no número de esporos de Nosema spp. na colônia. Apesar da convivência entre o hospedeiro e o parasito, a elevada diferença observada no número de esporos entre os grupos de diferentes suplementos fornecidos alerta para a sensibilidade dessa interação, podendo a prática de manejo alimentar interferir na transmissão horizontal intracolônia.