São muitos os benefícios gerados a partir da interação entre seres humanos e animais. De forma mútua, há vantagens para os seres humanos e animais, e, entre os animais, principalmente o cão. No entanto, a companhia humana pode refletir negativamente no comportamento canino resultando em agressões que, por sua vez, representam um sério problema para a saúde pública. Nesse sentido, a presente pesquisa propôs estudar as agressões de cães a humanos, envolvendo o comportamento canino. O estudo foi realizado no Município de Descalvado, localizado no Estado de São Paulo, região sudeste brasileira, por meio da análise de dados das fichas de atendimento para profilaxia da raiva humana ocorridos em 2014, obtidos a partir do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN), além de entrevistas feitas diretas com pessoas agredidas e com as pessoas tidas como tutoras dos cães agressores, por meio de questionário. Foi realizada análise descritiva com estudo de frequências e análise qualitativa com a Análise de Conteúdo. Das 142 notificações de agressões, a espécie canina predominou entre os agressores (74,4%). Das pessoas agredidas, 46,5% eram adultos entre 20 a 59 anos e tutora dos cães, com 42,2% das pessoas entrevistadas. A mordedura predominou como tipo de lesão (97,2%) de forma única (66,4%), superficial (51,8%), principalmente em mãos e pés (43,6%). O procedimento adotado com maior frequência para o tratamento profilático pós-exposição foi a observação do animal associado à vacinação (68,3%). Dos cães agressores, 70,2% era macho, 67,4% adulto, 50% eram vacinados contra raiva e 9,4% eram esterilizados. Dentre os cães agressores, 41,4% passeavam de forma inadequada (solta e sem supervisão). 41,5% dos cães agressores agiam de forma amigável com as pessoas membros da casa. Uma atitude reservada foi o comportamento mais frequente demonstrado pelos cães agressores tanto para as pessoas que o cão conhece (mas que não residem no mesmo domicílio), quanto para pessoas que o cão desconhece, em 39,1% das entrevistas. Com crianças, 34,8% dos cães agressores demonstravam gostar. Com base nos dados, os motivos que levaram aos acidentes estavam relacionados ao manejo inadequado (caracterizado por pessoas que ignoraram as consequências previsíveis dos animais às suas atitudes). Portanto, as agressões induzidas por seres humanos são passíveis de serem evitadas. O estudo evidencia a falta de conscientização sobre posse responsável e desconhecimento de comportamento canino, o que contribui para a alta prevalência de agressões (1:173), que, por sua vez, leva ao elevado número de indicações de tratamentos profiláticos antirrábicos com o uso de imunobiológicos. Essa situação que pode ser revertida com maior integração de profissionais médicos, médicos veterinários, e enfermeiros fortalecendo o Serviço de Vigilância Epidemiológica. Há uma necessidade marcante de trabalhos que conscientizem a população quanto à guarda responsável e comportamento canino.