A Estratégia Saúde da Família encontra-se em grande evidência na sociedade brasileira, com cobertura populacional crescente desde a sua implantação, em 1996. Atualmente, mais de 50% da população no Brasil é atendida por equipes de Saúde da Família. Desta forma, faz-se necessário a mudança curricular nos cursos da área de saúde, em especial na graduação em medicina para preparar o futuro profissional a atuar ou compreender este importante cenário de assistência, contemplando também, como local de aprendizado, a comunidade, onde o aluno atua próximo à realidade social em que o paciente se encontra. Os objetivos desta pesquisa são descrever o perfil sócio-econômico-cultural do interno do curso de medicina da Faculdade de Medicina de Petrópolis; conhecer suas perspectivas profissionais e avaliar seu raciocínio clínico antes e após o estágio em saúde da família, além de avaliar a qualidade do estágio sob a percepção do aluno. Trata-se de um estudo quase experimental, realizado com 95 alunos do sexto ano da Faculdade de Medicina de Petrópolis (86% da turma). Foram utilizados dados colhidos em dois questionários aplicados pelo pesquisador no primeiro e no último dia do estágio (de duração de três meses). As questões aplicadas no primeiro momento versaram sobre as características individuais dos alunos e perfil econômico, social e cultural dos entrevistados, sua perspectiva profissional futura, a importância atribuída por ele ao estágio prático nos primeiros anos de graduação (1º ano ao 3º ano). Tais dados foram avaliados quantitativamente. Além destas questões objetivas, três casos clínicos foram oferecidos, possibilitando a categorização das respostas em três níveis: (A) - Resposta completa, (B) - resposta parcialmente completa e (C) - resposta Incompleta. No último dia do estágio, questões foram também respondidas para avaliar a qualidade da prática (em escala quantitativa), assim como três casos análogos com os do primeiro momento. Tal metodologia permitiu ao pesquisador comparar as respostas referentes às questões clínicas antes e após o estágio. O estudo da evolução do raciocínio epidemiológico dos alunos, em especial interesse no que consiste na visão holística do paciente (universalidade e integralidade de assistência) e resolutividade das ações foi realizado. Em relação aos principais resultados, encontramos alunos predominantemente na faixa etária dos 24 aos 26 anos (52,7%), do sexo masculino (56,8%), que moram com colegas de curso (53,7%), brancos (71,6%), que não pensam em mudar de curso (96%), com rendimento familiar acima de 30 salários mínimos (23,1%). Metade da amostra atribuiu pouca ou nenhuma importância aos dois primeiros anos de atividades práticas nas unidades de saúde da família. Em relação aos casos clínicos, encontramos um melhor padrão de resposta (completa ou parcialmente completa) no caso clínico que aborda paciente com doença crônica, uma evolução no padrão considerado como resposta completa no caso onde foi abordado paciente com doença infecciosa e diminuição desta categoria ao abordarmos uma situação rotineira de trauma.