Este estudo intenciona relacionar a invenção da fotografia com a questão da paisagem.
Mas, sobretudo, fala da experiência da Floresta, como um importante campo experimental da
arte das Américas, através do Espaço de instalações permanentes do Museu do Açude, criado
pelo filósofo, crítico de arte e curador, Marcio Doctors. A entrada da fotografia na arte,
especialmente no cenário europeu parisiense, é um dos motivos a impulsionar os artistas a
saírem do ateliê em direção à paisagem, mesmo que ainda próxima, muitas vezes não mais
longe do que um jardim, em busca de uma percepção da luz que pudesse ser mais real do que
a própria luz que a fotografia era capaz de captar. Esse movimento é conhecido como uma das
características do impressionismo. Nas Américas, diferentemente da Europa, deu-se o
contrário: a fotografia reforçou e ampliou uma nitidez da imagem em direção a uma paisagem
mais longínqua, reconfigurando a concepção espaçotemporal que influenciaria a percepção da
arte dos meados do século XX, criando importantes conceitos como a Land Art.
No Brasil, por meio da experiência sensível com a Floresta -símbolo da natureza
brasileira – essas novas noções de tempo e espaço foram percebidas por Doctors, que bem
compreendeu não só uma necessidade local de reconfiguração espacial, que não poderia mais
ser nomeada como jardim, assim como, que era preciso reafirmar noções importantes do
nosso neoconcretismo. O projeto de Marcio Doctors, Espaço de instalações permanentes do
Museu do Açude, foi premiado em 2004 pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro com o
Prêmio Estácio de Sá, pela excelência do trabalho. Esse novo acervo contemporâneo, criado
por Doctors, configura-se como um marco na história da arte brasileira, atualizando o Museu
do Açude em seu tempo e, sobretudo, colocando a arte brasileira no patamar de uma das
questões mais radicais da arte contemporânea no século XX. Oito contos e Um projeto
secreto são licenças poéticas de uma experiência com a Floresta. Enquanto a ausência de
Heidegger é o inverso da presença que seu pensamento teve no primeiro estudo: “Land Art
como estratégia de proteção do espaço ante a virtualidade das imagens no século XX -
através do conceito de Gestell em Heidegger”.