A pré-eclâmpsia (PE) é caracterizada pelo aparecimento, após a vigésima semana de gestação, de hipertensão e proteinúria, em gestantes normotensas. Na ausência de proteinúria, a doença é diagnosticada, se houver hipertensão acompanhada das seguintes manifestações, trombocitopenia, insuficiência renal, comprometimento hepático, edema pulmonar ou sintomas cerebrais e visuais. A doença é classificada, de acordo com a idade gestacional na qual surgem os sintomas clínicos, em PE precoce, quando esses surgem antes da 34° semana de gestação e PE tardia, quando surgem na 34° semana de gestação ou após esse período. A PE precoce é considerada consequência de uma doença fetal, com comprometimento da remodelação placentária, estresse oxidativo por isquemia/reperfusão e lesão endotelial e a PE tardia resulta de um distúrbio materno, com placentação normal. A PE é também classificada nas formas leve ou grave, sendo que nessa última os níveis pressóricos estão ainda mais elevados. O objetivo deste estudo foi investigar a lesão endotelial e o estresse oxidativo na PE grave, precoce e tardia. Foram determinados os níveis plasmáticos de trombomodulina (TM), um marcador de lesão endotelial pelo método de ELISA, e de marcadores do estresse oxidativo: substâncias reativas com ácido tiobarbitúrico (SRATB), um marcador indireto de peroxidação lipídica, e 3-(4,5-dimetiltiazol-2yl)-2,5-difenil brometo de tetrazolina reduzido (MTT), um marcador da capacidade antioxidante. Um total de 72 gestantes foi avaliado, sendo 24 com PE grave (forma precoce), 22 com PE grave (forma tardia) e 26 gestantes normotensas (grupo-controle). A mediana dos níveis de TM foi estatisticamente elevada na PE precoce, comparando-se à PE tardia, 4782pg/mL (209 – 20565) versus 1908pg/mL (209-6249) e não diferiu em relação às gestantes normotensas 2103pg/ml (299 – 14063). As medianas dos níveis de SRATB nos grupos com PE precoce, 0,16µmol/L (0-0,23), PE tardia, 0,16µmol/L (0,10-0,21) e gestantes normotensas, 0,14µmol/L (0,10-0,22), não diferiram estatisticamente. A mediana dos níveis plasmáticos de MTT, medida em absorvância, na PE precoce 0,12 (0,01-0,25) foi estatisticamente elevada, comparando-se às gestantes normotensas, 0,10 (0,07-0,15) e não diferiu daquela obtida na PE tardia, 0,11 (0,08-0,19). Não foi obtida correlação significativa entre esses três marcadores. Esses dados permitem concluir que a lesão endotelial é mais pronunciada nas gestantes com PE precoce comparando-se à PE tardia; a defesa antioxidante é maior nas gestantes com PE precoce comparando-se as gestantes normotensas e o estresse oxidativo, avaliado pelos níveis plasmáticos de SRATB, não foi estatisticamente diferente nas formas precoce e tardia da PE. Sabendo das interferências que ocorrem na técnica de SRATB, por outros constituintes do plasma, a avaliação do estresse oxidativo por métodos mais sensíveis é necessária para avançar no entendimento da relação da lesão endotelial e o estresse oxidativo.