Introdução. Estudos prévios do nosso grupo de trabalho sugerem que a ingestão
materna de ácidos graxos trans (AGT) promove aumento da adiposidade e estado próinflamatório na prole. Entretanto, compostos fenólicos presentes em frutos, a exemplo da
Juçara, têm sido reportados como promissores na modulação da inflamação e estresse
oxidativo em humanos e animais adultos. Objetivo. Investigar o efeito da suplementação
materna com a Juçara (Euterpe edulis Mart.) sobre o desenvolvimento, microbiota e estado
pró-inflamatório da prole com 21 dias de vida de ratas tratadas com ácidos graxos trans
durante a gestação e lactação. Métodos. No primeiro dia de gestação, as ratas foram
randomizadas em quatro grupos: dieta controle (C), dieta C suplementada com 0,5% de
polpa da Juçara liofilizada (CJ), dieta enriquecida com gordura vegetal hidrogenada, rica
em AGT (T) ou dieta T suplementada com 0,5% de polpa da Juçara liofilizada (TJ). As
dietas foram mantidas durante todo o período de gestação e lactação. As proles fizeram
parte dos grupos de suas respectivas mães e aos 21 dias de vida foram submetidos à
eutanásia. O sangue, tecido adiposo retroperitoneal (RET), fígado, cólon e fezes do cólon
foram coletados. Foram realizadas dosagens bioquímicas no soro. O cólon, fígado e RET
foram utilizados para determinação dos níveis de RNAm por PCR em tempo real ou para
realização de Western Blotting. O DNA genômico da microbiota colônica foi determinado
por PCR em tempo real. As carcaças foram evisceradas e utilizadas para determinação da
gordura e proteína. Resultados. A ingestão materna de AGT resultou em aumento de IL-6
no RET e cólon, TNF- e mRNA TLR-4 no cólon, MyDD88 no fígado e redução da
relação IL-10/TNF-α e Bifidobacterium spp. no cólon. No entanto, a suplementação com a
juçara na dieta materna restaurou Lactobacillus spp. e Bifidobacterium spp. (TJ vs T),
aumentou a expressão gênica de ZO-1 no cólon (TJ vs T), reduziu a expressão protéica de
MyD88, da subunidade p-NFκBp65 (TJ e CJ vs T) e TNF-R1 (TJ e CJ vs C) no fígado, o
que levou a redução das citocinas pró-inflamatórias IL-6 e TNF-α no fígado e cólon, da
expressão gênica dos receptores IL-6R (CJ e TJ vs T; CJ vs C), TNF-R1 (CJ e TJ vs T) e
TLR-4 (CJ e TJ vs T) no cólon, aumento de IL-10 no RET e da relação IL-10/TNF-α no
fígado (TJ vs T). Além disso, os grupos que receberam a suplementação com a Juçara na
dieta materna apresentaram crescimento semelhante aos demais grupos, com menor ganho
de peso (CJ vs C, T e TJ) e melhor composição corporal, refletida pelo menor peso relativo
da gordura (CJ e TJ vs C), da relação gordura/proteína (CJ e TJ vs T) e maior proteína da
carcaça (TJ vs T). A suplementação com a Juçara na dieta materna também reduziu o
colesterol total (CJ e TJ vs T), triacilglicerol (CJ e TJ vs T e C) e glicose (CJ e TJ vs T;
Grupo TJ vs C). Conclusão. A ingestão materna de juçara melhora a composição corporal,
perfil lipídico, glicose sérica, restaura a microbiota e reduz os marcadores inflamatórios na
prole de 21 dias de vida, envolvendo a redução da ativação da via de sinalização do NFκB.
Estes resultados sugerem melhor função da barreira intestinal da prole e podem contribuir
para o controle da inflamação e prevenção de doenças crônicas na vida adulta.