A espondilomielopatia cervical (EMC) é uma afecção que envolve diversas estruturas da coluna vertebral cervical de cães de raças grandes e gigantes, havendo como consequência a compressão da medula espinhal, raízes nervosas, ou ambas. A cirurgia é o tratamento de escolha e diferentes procedimentos cirúrgicos foram propostos para o tratamento da EMC. Na doença disco-associada, o tratamento amplamente utilizado e que conduz a melhores resultados é a distração-fusão, porém, esta técnica pode levar a alterações biomecânicas nos segmentos adjacentes aumentando o risco de lesão do tipo “dominó”, com consequente degeneração dos discos intervertebrais imediatamente craniais e caudais ao ponto acometido. Recentemente, a técnica de artroplastia com o uso da prótese Adamo Spinal Disc® foi proposta na Medicina Veterinária com o objetivo de preservar a mobilidade entre as vértebras e ao mesmo tempo manter a distração entre elas. Com o uso dessa prótese, os resultados clínicos foram favoráveis, porém a quantidade de distração e a mobilidade dos espaços intervertebrais reduziram-se com o passar do tempo, quando comparado com o pós-operatório imediato. Outra complicação encontrada foi o afundamento tardio do implante no corpo vertebral. O objetivo deste trabalho foi desenvolver uma prótese de disco intervertebral cervical por meio do “design” gráfico e avaliar de forma qualitativa e quantitativa as principais tensões no sistema prótese - corpo vertebral utilizando o método de elementos finitos (MEF). Para isso foram utilizadas dezesseis colunas cervicais (C3-C7) de cadáveres caninos maturos (25-35 Kg) que serviram como modelo e parâmetro para as mensurações do tamanho da prótese. A mensuração da largura, altura, comprimento e angulação das superfícies ventrais e placas terminais dos corpos vertebrais de C5-C6 das colunas cervicais coletadas foram realizadas a fim de se obter o tamanho médio da prótese a ser desenvolvida. A prótese foi desenvolvida no programa Rhinoceros® e utilizou-se prototipagem após impressão em 3D para definição do melhor “design” e mensurações do implante. A análise por meio do MEF foi realizada no programa AnsysWorkbench. Para comparar a prótese desenvolvida com a já existente no mercado, foram compostos dois grupos experimentais representados por: prótese de disco cervical constituída de liga de titânio, denominada PVTM Cervical Disc (grupo I - GI) e a prótese Adamo Spinal Disc® (grupo II - GII). As tensões nas superfícies dos corpos vertebrais e prótese (parte cranial – P1; parte caudal – P2 e parafusos) foram avaliadas após a aplicação de forças de extensão, flexão lateral e flexão ventral. As forças foram aplicadas com as vértebras posicionadas de duas formas: neutra (para ambos os grupos) e pré-posicionada (flexão e extensão máximas apenas para o GI). Com as vértebras posicionadas de forma neutra, tanto para o GI como para o GII, observou-se que as tensões totais médias geradas no corpo vertebral, em P1 e P2 foram respectivamente 51,7%, 72,7% e 57,1% maiores no GII do que em GI. Com as vértebras posicionadas de forma neutra para o GII e pré-posicionada para o GI, observou-se que as tensões totais médias geradas no corpo vertebral, em P1 e P2 foram respectivamente 119,9%, 123,6% e 105,4% maiores em GII que em GI. A prótese PVTM Cervical Disc (GI) apresentou “design” adequado e bom encaixe no espaço intervertebral entre C5 e C6, e as tensões totais médias geradas no osso e prótese foram maiores em GII quando comparado com o GI. O estudo permitiu desenvolver uma prótese com distribuição mais homogênea das tensões no corpo vertebral e que possivelmente evita o afundamento da mesma e consequente redução da distração e mobilidade intervertebral como ocorre com a prótese Adamo Spinal Disc® (GII) existente no mercado.