Caixas de transporte de frango de corte são apontadas como importantes veículos de
transmissão de Campylobacter spp. entre granjas e matadouros-frigoríficos, pois são
reutilizadas várias vezes em um mesmo dia, adentrando em diferentes granjas. O
método de lavagem utilizado pelas empresas pode não ser eficaz na eliminação de
Campylobacter spp. Frente à estas questões, este trabalho teve por objetivos avaliar a
contaminação por Campylobacter jejuni e Campylobacter coli em caixas de transporte
antes e após o procedimento de lavagem e desinfecção realizado em matadouro-frigorífico de aves no Sul do Brasil. Além disso, foi verificada a viabilidade de
Campylobacter em caixas de transporte com 24 horas de secagem em temperatura
ambiente. Os quatro meios de culturas utilizados para estudo qualitativo foram
avaliados quanto a eficiência para o isolamento desta bactéria. Nas amostras isoladas foi
avaliada a presença dos genes de adesão flaA e cadF. Foram isoladas Campylobacter
spp. em 80% (8/10) dos lotes analisados, sendo a espécie prevalente a C. jejuni
identificada em todos os lotes positivos e 20% de C. jejuni e C. coli concomitantemente.
A frequência obtida depois da lavagem (21/30) foi maior em relação as amostras antes
(19/30) da lavagem. No entanto, o estudo quantitativo mostrou uma redução na
contagem bacteriana entre antes (8,2 NMP/g) e depois (5,2 NMP/g), embora não haja
diferença estatistica significativa. Já as amostras com 24h de secagem, apresentaram
uma redução significativa na contagem (0 NMP/g) e frequência (14/30) de
Campylobacter spp. em caixas de transporte. Entretanto, as caixas continuaram
contaminadas e com células viáveis do patógeno. Dos meios de cultura utilizados, o
ágar mCCDA com suplemento demonstrou uma melhor eficiência (28,6%) para o
isolamento de C. jejuni e C. coli, seguido do ágar Skirrow (13,3%) e ágar mCCDA com
ácido nalidíxico (11,1%). Entretanto, o uso de membrana de acetato (0,45 µm) em ágar
mCCDA demonstrou uma baixa frequência de isolamento (1,1%). Com relação aos
genes flaA e cadF, importantes para a invasão e aderência nas células epiteliais
intestinais no hospedeiro, as amostras antes do procedimento de lavagem e desinfecção
tiveram uma frequência de 75 e 87,5%, respectivamente. Em relação as amostras depois
da lavagem 66,6% apresentavam o gene flaA e 100% foram positivas para o gene cadF.
As amostras com 24 horas apresentaram 100% de positividades para ambos os genes. A
partir destes dados, foi observada uma alta ocorrência de Campylobacter spp. em caixas
de transporte nos lotes avaliados. Apesar da lavagem e desinfecção utilizada nos
matadouros-frigoríficos, verificou-se que estes processos não foram eficientes na
eliminação do agente, comprovando o papel das caixas de transportes como carreadores
de Campylobacter spp. da indústria para o campo. Desta forma, torna-se necessário
aprimorar o processo de limpeza e desinfecção a fim de diminuir a contaminação
cruzada e possibilitar a redução de Campylobacter spp. entre os lotes de aves.