O aumento dos índices de morbidade e mortalidade ocasionados por infecções bacterianas é
um problema de saúde pública, e tem provocado uma reflexão a nível mundial acerca do
surgimento de micro-organismos multirresistentes. Parte desse fenômeno deve-se ao uso
indiscriminado de antibióticos, que permitiu aos micro-organismos o desenvolvimento de
mecanismos de resistência. Por isso, faz-se necessário a constante busca do desenvolvimento
de novos fármacos candidatos a agentes antimicrobianos. Uma das estratégias da química
medicinal empregadas no desenvolvimento de antimicrobianos é a hibridização molecular,
que permite a conjugação de diferentes farmacóforos numa mesma molécula, ampliando o
potencial terapêutico das mesmas. Nesse contexto esse trabalho objetivou a avaliação da
atividade antibacteriana in vitro de novos compostos híbridos sintéticos contendo os
farmacóforos sulfonamida e 2-amino-tiofeno. Para tanto, sete novos derivados foram
sintetizados em duas etapas reacionais, iniciando pela reação de Gewald (obtenção de 2-
amino-tiofenos), seguido pela condensação desses com cloreto de 4-acetamido-benzenosulfonila
utilizando irradiação de ultrassom 40 kHz. Os compostos foram purificados,
caracterizados e tiveram suas estruturas confirmadas através de análise de RMN1H. Por
último foram determinadas as concentrações inibitórias mínimas (CIM) e suas atividades
como modificadores da atividade antibiótica (inibidores putativos da bomba de efluxo),
através da técnica de microdiluição, em linhagens de Staphylococcus aureus que
superexpressam os genes NorA, MrsA e TetK. Os compostos híbridos foram obtidos em até
80 minutos, em rendimentos satisfatórios (40-99%), demonstrando que a irradiação de
ultrassom é uma opção viável e adequada. Apesar de nenhum dos compostos apresentarem
atividade antibacteriana relevante in vitro (≥256μg/mL), alguns compostos, como Sulfa 01,
Sulfa 02 e Sulfa 04, atuaram como modificadores da atividade antibiótica, provavelmente por
inibição de bomba de efluxo, em especial na linhagem SA-1199B (que superexpressa o gene
norA) ao reduzir a CIM da Norfloxacina em até 16 vezes (128 para 8 μg/mL). Como as
sulfonamidas não têm ação inibitória de bombas de efluxo, nossos resultados nos levam a crer
que a porção tiofênica é a responsável por essa atividade, sugerindo assim, que os novos
compostos hibridizados, quando in vivo (visto se tratarem de pró-drogas) poderão agir por
dois mecanismos de ação distintos, potencializando suas ações. Os resultados indicam que os
novos derivados híbridos são possíveis candidatos a protótipos de antibióticos, com grande
potencial de agir por um mecanismo de ação sinérgico.