Objetivou-se avaliar o efeito de classe sexual e de níveis dietéticos de proteína
bruta sobre o consumo e a digestibilidade total dos constituintes das dietas, o
balanço de compostos nitrogenados, as quantidades de ureia filtrada e reabsorvida
nos rins e excretada na urina em bovinos Nelore. Avaliou-se, também, a produção
de proteína microbiana e a reciclagem qualitativa da ureia. Foram utilizados oito
animais da raça Nelore, sendo quatro novilhos inteiros e quatro novilhas, com
peso corporal (PC) médio inicial de 333,5±24,4 e 292±12,9 kg, respectivamente,
fistulados no rúmen, distribuídos em dois Quadrados Latino (QL) 4 x 4. As dietas,
contendo 50% de silagem de milho e 50% de concentrado na base da matéria seca
(MS), foram fornecidas duas vezes ao dia, ad libitum e foram constituídas de
quatro níveis de proteína bruta (PB): 9,0; 11,0; 13,0 e 15,0 % na base da MS,
correspondendo a 65,91; 68,32; 70,00 e 71,35% de PDR. Cada período
experimental teve duração de 14 dias, com sete dias de adaptação e sete dias para
procedimentos e coletas de amostras de alimentos, sobras, sangue, digesta e fluido
ruminais, urina e fezes. Para avaliar a reciclagem de ureia, utilizou-se infusão
intravenosa de 15 N 15 N-ureia, na dose diária de 220 mg de 15 N-ureia, por 72 horas.
As variáveis dependentes foram avaliadas de acordo com o delineamento em QL
4 x 4 e a comparação entre níveis dietéticos de PB foi realizada através da
decomposição ortogonal da soma dos quadrados associada às fontes de efeito
linear, quadrática e cúbica. Essas análises foram conduzidas utilizando o
procedimento MIXED do SAS, assumindo-se variâncias homogêneas entre as
dietas. Não houve efeito de interação (P > 0,05) entre as classes sexuais e níveis
dietéticos de PB para qualquer das variáveis avaliadas neste estudo. A classe
sexual e os níveis dietéticos de PB não afetaram (P > 0,05) os consumos de MS,
matéria orgânica (MO), MO digerida (MOD), extrato etéreo (EE) e carboidratos
iiinão fibrosos (CNF), em kg/dia, nem os consumos de MS e da fibra insolúvel em
detergente neutro corrigida para cinzas e proteína (FDNcp), em função do PC.
Não houve efeito de classe sexual (P > 0,05), mas houve efeito linear de níveis
dietéticos de PB (P < 0,05) sobre os consumos de PB e de NDT e sobre as
digestibilidade totais de PB e de FDNcp. A excreção fecal de N foi maior em
machos do que em fêmeas (P < 0,05) e foi afetada linearmente (P < 0,05) pelos
níveis dietéticos de PB. O consumo, as excreções urinárias de N-total, ureia e N-
ureico, o N retido, a relação NU:NT e a concentração plasmática de N-ureico não
apresentaram efeito de classe sexual (P > 0,05), mas foram afetadas linearmente
pelos níveis dietéticos de PB (P < 0,05). Entretanto, esses efeitos não foram
suficientes (P > 0,05) para resultar em diferenças no N retido expresso em função
do N ingerido sendo em média 26,05 % do N ingerido. Não houve efeito de classe
sexual (P > 0,05) ou de níveis dietéticos de PB (P > 0,05) sobre a excreção
urinária de creatinina cuja média foi de 23,2 mg/kg PC nem sobre a taxa de
filtração glomerular com média de 1,84 mL/min/kg PC. Não houve efeito da
classe sexual (P > 0,05), contudo, houve efeito linear crescente de níveis
dietéticos de PB (P < 0,05) sobre as quantidades de ureia filtrada, reabsorvida e a
excreção fracional de ureia. Considerando a excreção urinária de ureia (Ŷ) em
função da ingestão de N (X), em g/dia, obteve-se a equação Ŷ = 0,5606X.
Relacionando-se a concentração plasmática de N-ureico (Ŷ, mg/dL) e a ingestão
de N (X, g/dia), obteve-se a equação: Ŷ = 0,1234X, enquanto a regressão Ŷ =
3,9293X foi obtida relacionando-se a excreção urinária de ureia (Ŷ, g/dia) e a
concentração plasmática N-ureico (X, mg/dL). A relação entre a excreção
fracional de ureia (Ŷ) e a ingestão de N (X, g/dia) foi descrita pela equação: Ŷ =
0,3684(1-e -0,0105X ). Houve efeito linear de níveis dietéticos de PB (P < 0,05) sobre
a produção de Nmic e sobre N degradado ingerido. A eficiência de utilização do
N ingerido não foi afetada (P > 0,05) pelas classes sexuais ou pelos níveis
dietéticos de PB. Em relação à eficiência microbiana houve efeito de classe sexual
(P < 0,05), quando expressa em função da MOD, mas esse efeito não foi
significativo (P > 0,05) quando expressa em função do consumo de NDT.
Ajustando-se a produção de PBmic (g/dia) em função dos consumos de PB
iv(kg/dia) e de NDT (kg/dia) obteve-se a seguinte equação: PBmic = 179,98 +
37,6030 x NDT + 0,2577 x PB. A excreção fecal de N pode ser estimada por: N
fecal = -46,807 + 3,0662 x NDT (kg/dia) + 0,1579 x Ning (g/dia) + 0,1697 x PC
(kg). A excreção urinária de N (g/dia) pode ser predita pela equação: N urinário =
-1,8803 – 7,6528 x NDT + 0,5401 x Ning. A regressão Ŷ = 36,51 + 0,405X foi
ajustada considerando-se a produção de Nmic (Ŷ, g/dia) e a ingestão de N (X,
g/dia). Não houve efeito de classe sexual (P > 0,05) sobre a concentração de NH 3
ruminal, os teores de 15 N-NH 3 ruminal e os teores e excreção diária de 15 N fecal.
Houve efeito linear crescente de níveis dietéticos de PB (P < 0,05) sobre a
concentração de NH 3 ruminal, os teores de
15 N-NH 3 ruminal e os teores 15 N nas fezes. Entretanto, não houve efeito dos níveis dietéticos de PB (P > 0,05) sobre a excreção diária de 15 N fecal sendo em média 17,75 mg/dia. As regressões Ŷ =
23,6183e 0,0104X e Ŷ = 0,2416e -0,0145X foram ajustadas a partir da concentração
ruminal de amônia (Ŷ, mg/dL) e os teores de 15 N-NH 3 (Ŷ, %) em função da ingestão de N (X, g/dia), respectivamente. Os teores de 15 N fecal (Ŷ, %) foram avaliados em função da ingestão de N (X, g/dia), obtendo-se a seguinte regressão:
Ŷ = 0,08878 – 0,00034X. Não houve interação tripla (P > 0,05) entre as classes
sexuais, os níveis dietéticos de PB e as fases de bactérias, BAL e BAP sobre os
teores de N-total microbiano nem sobre os teores de 15 N nas bactérias ruminais,
nem diferença (P > 0,05) entre as fases BAL e BAP para as variáveis
quantificadas. As interações duplas entre as variáveis independentes não foram
significativas (P > 0,05), assim como os efeitos individuais (P > 0,05), com
exceção dos níveis dietéticos de PB sobre os teores de N-total e de
15N nas bactérias ruminais. Houve efeito cúbico (P < 0,05) dos níveis dietéticos de PB
sobre os teores de N-total microbiano e efeito quadrático (P < 0,05) sobre os
teores de 15N nas bactérias ruminais. Foram ainda observados efeito linear
decrescente dos níveis dietéticos de PB (P < 0,05) sobre a produção diária de
15Nmic expressa em mg/dia. As regressões Ŷ = 1,0740X e Ŷ = 1,0512X foram
obtidas para BAL e BAP, respectivamente, em que Ŷ representa os teores de 15 N
nas bactérias ruminais (%) e X, os teores de 15 N-NH 3 ruminal (%). Considerando-
se os teores de 15 N fecal (Ŷ, %) e teores de 15 N (X, %) nas fases BAL e BAP, as
vseguintes regressões foram obtidas: Ŷ = 0,2927X e Ŷ = 0,2668X,
respectivamente. Não houve efeito individual de classe sexual (P > 0,05) sobre os
percentuais de 15N infundido no plasma que foi recuperado nas fezes ou nas
bactérias. Também não houve efeito de níveis dietéticos de PB (P > 0,05) sobre os
percentuais de 15N infundido no plasma que foi recuperado nas fezes, sendo em
média 8,06%. Entretanto, houve efeito linear decrescente dos níveis dietéticos de
PB (P < 0,05) sobre os percentuais de 15N infundido no plasma recuperados nas
bactérias, que variaram de 15,13 a 35,23. Conclui-se que a produção de proteína
microbiana não é afetada pela classe sexual, mas aumenta linearmente com os
consumos de PB e de NDT. BAL e BAP possuem mesmo teor de N-total e de N-
ureico infundido recuperado. As concentrações de 15N-NH 3 no rúmen e
15N nas bactérias são maiores para os menores níveis de PB dietéticos. Ocorre maior
recuperação do N-ureico infundido por via intravenosa na proteína microbiana
produzida em dietas com menor teor de PB.