Introdução: não há evidencias robustas sobre a incidência de eventos de imunoativação subclínica em pacientes recebendo regimes baseados em tacrolimo (TAC) em concentrações reduzidas. Também não está claro o benefício da conversão precoce de TAC para sirolimo (SRL) na estrutura do parênquima renal e no surgimento de eventos imunomediados subclínicos.
Métodos: este estudo analisou as biópsias protocolares realizadas antes do implante, aos 3 meses e aos 24 meses após o transplante, e os anticorpos anti-HLA específicos contra o doador (D.S.A) de 140 receptores de transplante renal de baixo risco imunológico, os quais participaram de um estudo de intervenção cuja imunossupressão consistiu em TAC em baixas concentrações (8 e 10 ng/mL no primeiro mês e 5 a 7 ng/mL a partir de então), prednisona (PRED) e micofenolato sódico (MPS) por 3 meses, quando eram randomizados para conversão ou não de TAC para SRL.
Resultados: A população foi composta predominantemente por homens (65%), brancos (47,9%), jovens (44,6 ± 13,2 anos), receptores de transplante com doador vivo (55%). Aos três meses, a concentração sanguínea de TAC foi 6,0 ± 2,4ng/mL. Treze pacientes (9,3%) apresentaram imunoativação subclínica neste período, sendo cinco casos de rejeições agudas comprovadas por biópsia com Banff IA ou maior; sete casos com infiltrados borderline; e um caso suspeito para rejeição aguda mediada por anticorpo. Na análise multivariada, não foram identificados fatores de risco para seu desenvolvimento. Apesar de 10 dos 13 episódios de imunoativação subclínica diagnosticados no mês 3 terem sido tratados, essas lesões foram associadas com fibrose intersticial/atrofia tubular (FI/AT) no mês 24 (OR 11,75, IC 95% 1,286-107,474, p=0,029). Entre a conversão no mês 3 e o mês 24, 4 pacientes, todos do grupo SRL (7,3%) apresentaram episódios de rejeição aguda. No mês 24, as médias das concentrações de TAC e SRL foram de 5,9 ± 2,4 e 7,6 ±2,9 ng/mL, respectivamente. As biopsias protocolares deste período revelaram uma maior incidência FI/AT no grupo SRL quando comparado ao grupo TAC (68,8 vs. 44,4%, p=0,022). Apesar de não estatisticamente significante, os pacientes desse grupo apresentaram uma incidência numericamente maior de D.S.A pós-transplante quando comparada ao grupo TAC (17,8 vs. 7,3%, p=0,201). A conversão para SRL foi fator de risco independente para função renal inferior (OR 2,34, IC 95% 1,043-5,267, p=0,039) e FI/AT (OR 2,72, IC 95% 1,155-6,383, p=0,022) e esses pacientes apresentaram maior incidência de proteinuria (59,6 vs. 25%, p=0,001).
Conclusão: A exposição reduzida ao TAC esteve associada a uma significativa incidência de eventos de imunoativação subclínica aos três meses e esses episódios foram fatores de risco independentes para FI/AT aos 24 meses. Pacientes estáveis convertidos precocemente de TAC para SRL apresentaram maior risco de função renal inferior e FI/AT, além de maior incidência de proteinuria e uma tendência para maior incidência de D.S.A.