GAMON, T. H. M. Estudo da etiopatogenia do vírus da raiva utilizando um
modelo murino de neuroinfecção. [Study of the pathogenesis of rabies virus using
a murine model of neuroinfection]. 2015. 73 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) –
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2015.
A raiva é uma zoonose quase sempre fatal, que causa milhares de mortes humanas
por ano em todo mundo. Essa enfermidade manifesta-se nos mamíferos em duas
formas clínicas: furiosa e paralítica. Distinções em relação à evolução,
manifestações clínicas, lesões, distribuição e respectiva carga viral no Sistema
Nervoso Central (SNC) podem estar relacionadas às características de
neuroinvasividade e neuropatogenicidade das diferentes variantes do vírus da raiva
(RABV). O objetivo deste projeto foi estabelecer um modelo para o estudo da
patogênese da raiva em camundongos inoculados com vírus fixo CVS/31 e variantes
de rua do RABV originárias de bovino (variante 3 – compatível com isolados de
morcegos hematófagos) e de canídeo silvestre (variante compatível com isolados de
canídeo silvestre). Para estabelecer o modelo murino, 24 camundongos isogênicos
da linhagem BALB/c, de três semanas de idade foram inoculados com 103
DLIC50/0,03mL por via intracerebral (IC) para confirmar a neurovirulência das
diferentes variantes do RABV. De modo concomitante, 32 camundongos desta
mesma linhagem e faixa etária, foram inoculados com 105 DLIC50/0,03mL pela via
coxim plantar (CP) com o intuito de mimetizar a progressão da infecção natural. Para
o estudo da patogênese do RABV foram analisados durante um período de trinta
dias após a inoculação (DPI) em camundongos pela via CP os seguintes
parâmetros: manifestações clínicas, alterações histopatológicas, distribuição
antigênica viral pela técnica de imuno-histoquímica (IHQ) e distribuição de RNA viral
pela técnica da reação em cadeia da polimerase em tempo real precedida pela
transcrição reversa (RT-qPCR) - sistema SYBR Green em diversos segmentos do
SNC. Todos os camundongos inoculados com as três amostras do RABV
apresentaram sintomas compatíveis com a forma paralítica da doença, tais como:
piloereção, perda de peso, postura arqueada, prostração e paresia dos membros
posteriores. Apesar de não ser possível observar diferenças de neuropatogenicidade
entre as variantes virais, detectaram-se diversidade de virulência entre essas
estirpes, demonstrado pelas distinções de período de incubação e taxa de
letalidade. Ao analisar os resultados, também foi possível observar diferenças entre
a neurovirulência e a neuroinvasividade das diferentes variantes do RABV. Nos
camundongos inoculados com CVS/31 pela via CP, no 6º DPI, observaram-se
predomínio de manguitos perivasculares na medula espinhal e degeneração
neuronal em córtex e intensa distribuição antigênica de RABV no tronco encefálico.
Nos camundongos inoculados via CP com amostras do RABV originárias de bovino,
no 8º DPI, apresentaram moderada distribuição de manguitos perivasculares na
medula e córtex e intensa distribuição antigênica no tálamo. Já nos animais
inoculados com a amostra de canídeo silvestre, no 9ºDPI, relataram-se moderada
distribuição de manguitos perivasculares no tronco encefálico e moderada
distribuição antigênica no córtex. Além disso, foi observado discrepâncias na
comparação entre a intensidade e distribuição de marcações antigênicas pela IHQ e
inferência semi-quantitativa de distribuição de RNA viral analisada pelo RT-qPCRsistema
SYBR Green no SNC de camundongos.