Clostridium perfringens é uma bactéria Gram-positiva, anaeróbia estrita, formadora de
esporos e produtora de toxinas. Dependendo do perfil de produção de suas quatro
toxinas principais, ela é classificada em cinco tipos, de A a E. Dentre esses tipos, os
produtores das toxinas Alfa, Beta e Épsilon são considerados os mais importantes na
saúde animal, uma vez que podem afetar grande parte dos animais de produção,
causando doenças debilitantes e, porventura, fatais. Devido sua natureza ubíqua,
estando presente tanto no meio ambiente quanto no trato gastrointestinal de animais,
a eliminação dessa bactéria dos locais de criação é muito difícil. Sendo assim, , a
vacinação é considerada a melhor estratégia para o controle de doenças relacionadas
com C. perfringens. Utilizando o sistema de expressão em Escherichia coli, é possível
obter alta quantidade de antígenos vacinais em um processo mais previsível, simples
e seguro, quando comparado com o processo atual. No presente trabalho, as toxinas
recombinantes Alfa, Beta e Épsilon foram produzidas em E. coli, purificadas e
utilizadas para formular uma vacina trivalente contendo hidróxido de alumínio como
adjuvante. A formulação contendo 200 µg de cada antígeno por dose passou pelo
teste de potência em coelhos (n=8), gerando 9,6, 24,4 e 25,0 UI/mL de anticorpos
neutralizantes contra as respectivas toxinas. Considerando os valores mínimos
estipulados pela legislação brasileira – 4, 10 e 2 UI/mL contra as respectivas toxinas
–, essa formulação estaria aprovada para uso comercial. Além disso, ruminantes de
produção (bovinos, ovinos e caprinos, sendo 7 animais por grupo) receberam essa
mesma formulação, apresentando, respectivamente, 5,19 ± 0,48, 4,34 ± 0,43 e 4,70 ±
0,58 UI/mL contra Alfa, 13,71 ± 1,17 UI/mL (para as três espécies) contra Beta, e 12,74
± 1,70, 7,66 ± 1,69 e 8,91 ± 2,14 UI/mL contra Epsilon. Tais níveis foram superiores
aos mínimos requeridos pela lei brasileira e ligeiramente maiores que os induzidos por
uma vacina comercial utilizada como parâmetro de comparação. No presente
trabalho, ainda é especulada uma diferença entre testes vacinais em espécies modelo
e alvo. No caso, os níveis mensurados em coelhos se mostraram de 2 a 3 vezes maior
que aqueles em espécies ruminantes. Contudo, a vacina recombinante aqui
apresentada se mostrou efetiva na geração de anticorpos protetores acima dos níveis
recomendados, se mostrando uma ótima alternativa ao uso das vacinas
convencionais baseadas em toxoides.