A fumonisina B1 (FB1) é uma micotoxina produzida pelo metabolismo secundário de
espécies de Fusarium, principalmente F. verticillioides e F. proliferatum, os quais
contaminam diversos alimentos antes e após o processamento, sobretudo o milho e
derivados, gerando graves problemas para a Saúde Pública e a qualidade dos alimentos. O
objetivo deste trabalho foi avaliar a exposição humana à FB1 presente nos alimentos através
da estimativa de ingestão da toxina na dieta e da análise de diferentes biomarcadores
presentes em amostras de sangue, urina e cabelo. Além disso, foram investigados os efeitos
da toxina através da avaliação de ácido fólico presentes em alimentos e em soro, e os níveis
de uréia e creatinina presentes em soro. O estudo foi realizado em dois municípios dos
Estados de São Paulo e Santa Catarina, cujos respectivos voluntários foram categorizados
como de baixo consumo de derivados de milho (Grupo A, voluntários de Pirassununga/SP) e
de alto consumo de derivados de milho (Grupo B, voluntários de Erval Velho/SC). As
amostras de alimentos do Grupo A (Pirassununga/SP) foram fornecidas pelos voluntários
(n=100) nos meses de Junho/2011, Setembro/2011, Dezembro/2011 e Março/2012. Os
voluntários do Grupo B (Erval Velho/SC) (n=20) forneceram amostras de alimentos no mês
de Abril/2012. Em cada grupo, uma lista com 20 alimentos à base de milho foi entregue aosvoluntários, para fornecimento de amostras daqueles disponíveis em suas respectivas
residências em cada mês de amostragem, totalizando 122 amostras de derivados de milho
no Grupo A e 17 amostras no Grupo B coletadas durante o estudo. Adicionalmente, aplicouse
um Questionário de Frequência Alimentar (QFA) e um Inquérito Recordatório de 24 horas
(QIR - 24 h) no momento das coletas de amostras. Em cada mês de amostragem de
alimentos, foram coletadas amostras de sangue, urina (somente Grupo A) e cabelo dos
voluntários, sendo as amostras armazenadas a -20ºC (urina e cabelo) ou -80ºC (sangue) até
o momento das análises. As amostras de alimentos foram submetidas à análise de FB1,
sendo que as de farinha de milho foram também analisadas quanto ao teor de ácido fólico.
Ambas as análises foram feitas através de cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE).
Em soro, foram avaliadas a relação esfinganina/esfingosina (Sa/So), resíduos de FB1, ácido
fólico, uréia e creatinina. Em urina, foram analisados os níveis de FB1, creatinina para
correção do volume urinário e a relação Sa/So. Em cabelo, foram analisados os resíduos de
FB1 através de CLAE acoplada à espectrometria de massas. Todos os métodos de análise
foram submetidos a procedimento de otimização e validação intra--laboratorial. A incidênciade FB1 nos alimentos foi, em média, 72% (n=122) nas amostras do Grupo A
(Pirassununga/SP) e 35% (n=17) no Grupo B (Erval Velho/SC). Os maiores níveis foram
encontrados em amostras de pipoca provenientes do Grupo B, com uma amostra
excedendo o limite de tolerância estabelecido no Brasil (2,500 Sg kg-1). A ingestão diária
provável média (IDPM) de FB1 no Grupo A foi de 63,3 ng kg-1 peso corpóreo (p.c.) dia-1, que
corresponde a 3,1% da ingestão provisória máxima tolerável (IPMT) recomendada para
fumonisinas (2.000 ng kg-1 p.c. dia-1). A IDPM do Grupo B apresentou uma média de 190,1 ng
kg-1 p.c. dia-1 o que corresponde a 9,5% da IDMT. As concentrações de ácido fólico nas
amostras de farinha de milho variaram de < 0,3 Sg kg-1 (limite de quantificação do método) a
1.705 Sg kg-1, com média de 713 ± 435 Sg kg-1. Somente uma amostra apresentou nível de
ácido fólico acima do valor mínimo estabelecido pela ANVISA. Em urina, a incidência de FB1
foi de 33,4% (n=251), com níveis médios de 3,19 ± 3,15 ng mg-1 de creatinina. Não houve
correlação (P>0,05) entre as concentrações de FB1 na urina e nos alimentos. Os níveis de
esfinganina foram mais elevados em mulheres, com 25,0% (n=116) de amostras positivas,
em comparação à urina de homens, 10,4% (n=96). A relação Sa/So apresentou em média
0,91, 0,77 e 0,89 para urina de mulheres, homens e em combinação, respectivamente. Em
soro, os níveis de esfingosina foram em média 2,48 ng mL-1 para o Grupo A e 5,01 ng mL-1
para o Grupo B. A relação Sa/So variou de 0,06 a 3,19 com média de 0,79 para o Grupo A e
0,78 para o Grupo B. Embora tenha havido correlação positiva (r=0,574, P<0,05) entre arelação Sa/So no soro e os dados de consumo de milho e derivados obtidos no QIR-24 h,
não foram observadas correlações (P>0,05) entre a ingestão de FB1 e a relação Sa/So na
urina ou soro. A concentração de ácido fólico no soro variou de 6,7 a 24,0 ng mL-1 (média de
13,4 ± 5,4 ng mL-1), com ambos os grupos (A e B) apresentando resultados dentro dos
valores de referências. Não foram observados níveis detectáveis de FB1 nas amostras de
soro. No entanto, FB1 foi detectada em 4 amostras de cabelo humano (7,2%) dos Grupos A
e B, cuja concentração média foi de 21,3 ± 12,1 ng g-1. Em síntese, os resultados obtidos
nas análises de biomarcadores de FB1 no presente trabalho estão de acordo com os valores
de IDPM encontrados, indicando que a exposição à FB1 nas populações estudadas não
representa um risco a saúde.