Este é o primeiro estudo objetivando investigar a epidemiologia do complexo teníase-
cisticercose, causado pelos parasitas Taenia solium e Taenia saginata, em
assentamentos rurais da Reforma Agrária no Brasil. Para isto, 497 unidades de
produção familiar foram selecionadas e amostradas aleatoriamente em 52
assentamentos do Estado de Minas Gerais. As amostras biológicas de 855 seres
humanos, 1.533 bovinos e 518 suínos provenientes das referidas unidades foram
coletadas e processadas. Além destas, 497 questionários epidemiológicos foram
aplicados em cada unidade para coletar dados sobre a produção animal, bem como as
condições sanitárias, de higiene e sociais de cada unidade de produção familiar.
Amostras de fezes humanas foram analisados para detecção dos ovos Taenia spp.,
enquanto que amostras de sangue dos animais foram submetidas a testes sorológicos
para detecção de anticorpos da cisticercose. Cinquenta casos positivos para teníase
humana, sendo 3 procedentes de diagnóstico laboratorial e 47 casos reportados no
questionário; 64 casos de cisticercose bovina e 17 casos de cisticercose suína também
foram encontrados. A prevalência por unidade de produção familiar foi: 0,35% (3/855)
para teníase através do teste fecal, 3,4% (47/1.395) para teníase através de auto-relato,
3,3% (17/518) para cisticercose suína e 4,2% (64/1.533) para a cisticercose bovina
através de testes sorológicos. A distribuição espacial para cisticercose suína mostrou-
se agrupada em duas regiões diferentes, enquanto para a teníase humana e cisticercose
bovina mostraram-se distribuídas geograficamente dispersas. O modelo ajustado da
regressão logística revelou dois fatores de risco fortemente associados com a
ocorrência da cisticercose bovina: fonte de água para consumo (p=0,009) e o destino
do esgoto a céu aberto (p=0,031), enquanto a queima de lixo mostrou ser um fator de
proteção significativo (p <0,001); para a cisticercose suína, a criação de suínos soltos
(p=0,008) e o destino do esgoto a céu aberto (p≤0.024); para a teníase humana, três
importantes fatores de risco, os proprietários que viram cisticercose em seus suínos
(p<0,001), água dos córregos para dessedentação dos suínos e bovinos (p = 0,040) edestino do esgoto a céu aberto (p=0,003). Este estudo evidenciou assentamentos de
todas as regiões com altas prevalências e permitiu a identificação de importantes
demandas sociais para o controle e prevenção do complexo teníase-cisticercose, como,
investimentos em educação e saúde pública nestas áreas, com melhoria das instalações
para o adequado esgotamento sanitário, proteção dos recursos hídricos e a criação de
suínos em sistemas controlados.