A literatura pode ser observada, também, como uma constante revisitação à cultura; portanto, à sociedade e tudo o que a constitui. Por meio da obra A Casa, da escritora cearense Natércia Campos, buscamos tratar da composição cultural na formação do povo sertanejo, pois é ele exemplo singular do elo transcultura luso-afro-brasileiro, mestiçagem da qual trataremos. No Brasil, para alcançarmos uma identidade nacional e cultural, primeiro incidimos por um processo de transculturação, no qual o hibridismo se deu de maneira tão intensa, que marcou por inteiro os novos povos, os filhos mestiços das terras brasis após 1500, surgindo uma miscelânea cultural nas terras sul-americanas a qual se convencionou chamar de brasilidade; partindo da transculturalidade verificada na ficção narteciana, buscamos refletir sobre a questão em nível de sertão, elevando a discussão, não raramente, à condição nacional. Concluímos, ao final, que a cultura sertaneja é transcultural, resultando do mesmo processo ocorrido em todo o restante solo brasileiro e que a sociedade é, obrigatoriamente, o coletivo que guardeia a cultura; revitalizando-a e repassando-a incansavelmente. Desejamos, com este estudo, desmistificar a famigerada estereotipia do sertanejo isolacionista e inferior, propagado pela sociedade sulista brasileira ao longo da história; pondo-o no devido local, como povo que, embora com especificidades, como qualquer outro, é e compõe a macro etnia cultural que constitui o ser social brasileiro.