A espermatogênese é um processo biológico altamente eficiente que se inicia com a
proliferação das espermatogônias que, após divisões e diferenciação, dão origem
aos espermatozóides. O número final de espermatozóides produzidos em uma
espécie depende de vários fatores, sendo muito baixo em primatas. As espécies de
saguis Callithrix jacchus e Callithrix penicillata são primatas do Novo Mundo que, por
possuírem processos espermatogênicos semelhantes ao do homem, tornam-se modelos experimentais
atrativos. Esses saguis filogeneticamente próximos hibridizam gerando indivíduos altamente adaptados e viris em meio natural. O presente estudo descreve a organização morfofuncional dos testículos e quantifica
os componentes testiculares, ainda não estudados para este híbrido. Para isso,
testículos de nove animais foram obtidos após a eutanásia de saguis machos
adultos provenientes do SERCAS - UENF. Os testículos foram fixados em solução
de Karnovsky modificada (glutaraldeído a 4% e paraformaldeído a 4% em tampão
fosfato 0,05 M, pH 7,3) e processados para estudos em microscopia de luz. Secções
de três micrômetros de espessura foram obtidas e coradas com azul de
toluidina/borato de sódio. Esses saguis híbridos apresentaram
índice gonadossomático de 0,37%, bem maior que observado para espécies de
comportamento monogâmico ou poligâmico masculino de dominância, como o
homem (0,08%) e o gorila (0,02%) e semelhante ao valor encontrado para o C.
penicillata (~0,4%), sugerindo que o sagui apresenta comportamento sexual
predominantemente promíscuo. O percentual do parênquima ocupado pelos túbulos
seminíferos de 87% encontra-se num patamar elevado entre os mamíferos já
investigados, e o percentual observado para as células de Leydig (1,4%) é muito
baixo. Os valores médios encontrados para o diâmetro tubular (228 μm) e o
comprimento tubular (~20 metros) por grama de testículo encontra-se dentro da faixa
média observada para a maioria das espécies de mamíferos já investigadas. Os
coeficientes obtidos para as contagens feitas nos saguis hibridos mostraram que as
perdas celulares durante a meiose (50%; índice meiótico) são equivalentes a outros
ixmamíferos e relativamente acima ao citado para o C. jacchus e o C. penicillata
(~15%) seus progenitores, e bastante próxima àquelas citadas para o homem
(~70%). O rendimento geral da espermatogênese ficou em torno de 8,3:1 e superior
ao do homem (3,2:1). A eficiência da célula de Sertoli foi 3 vezes maior do que o
valor citado para o homem. O número de células de Sertoli por grama de testículo
(~58 milhões) encontra-se em conformidade a outros mamíferos. A medida
encontrada para o volume individual da célula de Leydig (~323μm3) ficou bem abaixo
do encontrado para o C. penicillata (1400μm3), diferindo também do observado para
a maioria dos mamíferos e representando um valor bastante baixo do valor médio
citado para o homem (2940-4300μm3). Em contrapartida, existe um maior número
dessas células por grama de testículo nos saguis híbridos (47,4 milhões) do que o
encontrado para C. penicillata (13,9 milhões) e para o homem (9 milhões), fator esse
significativo (r=0,8) ao se tratar do baixo volume de células de Leydig em correlação
com a concentração de testosterona encontrado nos saguis híbridos aqui estudados.
Com isso, por meio da morfologia tubular, foi possível concluir que a composição
celular do estádio 1 do ciclo do epitélio seminífero desses saguis híbridos é muito
semelhante à relatada para humanos.