A córnea é considerada a porção refratária mais importante do olho devido sua curvatura e transparência. Entre as enfermidades que acometem essa estrutura se destacam as ulcerações corneais, que quando não são tratadas adequadamente podem levar a perda da visão. O tratamento das ulcerações corneais complicadas consiste na realização de enxertos e transplantes, procedimentos que, por apresentarem grandes demandas devido a seus resultados satisfatórios, encontram dificuldades na obtenção de doadores. A bioengenharia tem apresentado progressos significativos envolvendo técnicas que visam recosntituir parte ou a totalidade da espessura danificada da córnea com a utilização de biomateriais, como por exemplo, o uso de membrana amniótica descelularizada, conjuntiva descelularizada de suíno, mucosa oral autóloga e matriz corneal descelularizada suína. Estudos com córneas descelularizadas apresentaram resultados satisfatórios, efeitos estes que criaram novas possibilidades terapêuticas para o tratamento de lesões corneais que necessitem de enxertos. A descelularização de um tecido ou órgão consiste na remoção de células e de seus componentes sem alterar a matriz extracelular minimizando qualquer efeito adverso na composição e integridade da estrura remanescente, entre os protocolos utilizados nesse processo têm-se a utilização de métodos químicos, biológicos, físicos ou uma associação destes. Para verificar a eficiência da descelularização são realizadas várias análises, entre elas a histológica, a histoquímica, a extração e quantificação do material genético. Avaliações microbiológicas também são realizadas para verificar a eficiência da esterilização durante o procedimento de preparação das matrizes corneais descelularizadas, assim como seu armazenamento em meio conservante por um determinado período. As matrizes podem ser armazenadas utilizando vários meios conservantes como o Eusol®, Optisol®, RPMI-1640®, Glicerina, entre outros. Este estudo teve como objetivo avaliar a eficiência da descelularização de córneas suínas utilizando solução de hidróxido de sódio (0,5 M) e sua utilização em uma ceratoplastia lamelar em cão. As córneas foram coletadas em abatedouros da região metropolitana do Recife e transportadas para o Laboratório de Oftalmologia Experimental da Universidade Federal Rural de Pernambuco, onde foram esterilizadas em iodopovidona 10% (vic pharma®), descelularizadas utilizando solução de hidróxido de sódio (0,5 M) e conservadas em meio RPMI-1640® e glicerol (1:1) sob temperatura de 20 ˚C negativos. Foram realizados estudos histológicos e histoquímicos para verificar a presença de células residuais e organização das fibras colágenas no estroma, a extração e quantificão do DNA das córneas controle e descelularizadas, e análise microbiológica do meio de conservação. O paciente que recebeu o enxerto lamelar utilizando a matriz corneal suína descelularizada foi avaliado oftalmologicamente em diferentes periodos pós operatórios. Como resultado a solução de hidróxido de sódio (0,5 M) foi eficiente na descelularização da córnea suína, a análise microbiológica teve resultado negativo para bactérias e fungos, as córneas apresentaram conservação adequada em meio RPMI-1640® e glicerol (1:1), e a ceratoplastia lamelar em cão utilizando a matriz córneal suína descelularizada apresentou resultados satisfatórios.