Analisar a qualidade do cuidado pré-natal em um município do interior da
Amazônia Ocidental Brasileira. Métodos: Trata-se de um estudo transversal sobre a
qualidade do pré-natal, no contexto urbano e rural no município de Jordão, Estado do
Acre, que utilizou dados secundários. A amostra é composta por 711 gestações geradas
por 510 mães que foram acompanhadas pelo serviço de pré-natal do município. Para a
avaliação da qualidade do pré-natal foram utilizados os parâmetros do Programa de
Humanização do Pré-natal e Nascimento (PHPN). Na analise bivariada foi utilizado o
teste t-Student para as variáveis quantitativas e o teste de Qui-Quadrado para as
qualitativas. As variáveis que na análise univariada apresentaram valor de p<0,10 foram
utilizadas na análise de regressão logística, na identificação dos fatores que influenciaram
uma melhor qualidade na assistência. O método utilizado foi o Stepwise Foward,
permanecendo no modelo final somente aquelas com significância estatística (p<0,05).
Resultados: A cobertura geral de pré-natal foi de 87,8% e 23,7% das gestações tiveram
seis ou mais consultas. Na zona rural, a cobertura foi de 84,2%, mas somente 11,2%
realizaram seis ou mais consultas. Em relação à qualidade, 81,0% dos atendimentos
foram classificadas como pior assistência pré-natal, alcançando 90,2% entre as gestações
das mulheres residentes na zona rural. Apenas 3,9% (n=28) das gestações tiveram acesso
aos nove procedimentos assistenciais selecionados para esse estudo e preconizados pela
PHPH. Contribuíram para essa baixa qualidade, a não realização de seis ou mais
consultas (76,3%), de exames laboratoriais de rotina (72,3%), de orientação sobre
planejamento familiar (58,1%), de orientação sobre aleitamento materno (43,9%) e de
suplementação de ácido fólico (42,7%). Apresentaram pior qualidade da assistência,
mulheres: indígenas (56,8%), que viviam com menos de dois salários mínimos (92,5%),
que não desenvolviam nenhuma atividade remunerada fora do domicilio (80,7%), cujo
pai da criança era o chefe do lar (80,6%) e que recebiam bolsa família (56,3%), todos
com diferença estatisticamente significante. Em média, as mães com pior qualidade da
assistência pré-natal apresentaram menor escolaridade (p<0,001). Com relação às
características obstétricas e reprodutivas, as variáveis que mais contribuíram para a pior
qualidade do pré-natal, em média, foram o maior número de gestações, a menor idade na
primeira gestação e o maior número de filhos (p<0,001). Os fatores associados à melhor
qualidade da assistência pré-natal foram: maior escolaridade materna, idade na primeira
gravidez e a mãe não ser indígena. Conclusões: Os achados revelam um importante
avanço na cobertura da atenção pré-natal, mesmo diante das dificuldades de acesso
geográfico, de recursos diagnósticos e o desenvolvimento de ações de educação e saúde
que comprometem a qualidade do serviço prestado. Esse cenário potencializa a
ocorrência de desfechos negativos para a saúde materno-infantil. Assim, mulheres que
retardam o início da vida reprodutiva, que alcançam maior escolarização e que não estão
sujeitas as mesmas condições de vulnerabilidade dos povos indígenas conseguem ter
acesso a um pré-natal de melhor qualidade