O Slow Food é um movimento de origem italiana, constituído oficialmente em 1986, após os protestos contra a abertura de um restaurante do McDonald’s na famosa Piazza di Spagna, em Roma. Mas somente em 1989, intelectuais de 15 países lançaram o Manifesto Fundador do movimento em Paris. O Slow Food se configura dentro de um conjunto de movimentos sociais que questionam a lógica do sistema agroalimentar contemporâneo. Enfatiza alternativas ao processo de racionalização e padronização alimentar por considerar que este, baseado na produtividade a qualquer custo, resulta na perda da naturalidade e do sabor do alimento. Neste sentido, o Slow Food inclui a crítica estética e valoriza o prazer hedonista que tinha ficado em segundo plano nas tradicionais críticas éticas ao sistema agroalimentar que, até então, se concentravam nos aspectos da saúde, meio ambiente e justiça social. No entanto, a trajetória e o amadurecimento do Slow Food o levaram à incorporação dos valores “limpo” e “justo”, aproximando-o dos “velhos” movimentos. A principal questão investigada nesta tese é se o Slow Food, que em sua origem concentrava atenção no prazer alimentar, estaria se afastando do aspecto hedonista. Além disso, procura-se entender a trajetória do movimento e a especificidade do mesmo ao se constituir em território brasileiro. A Tese busca responder estas questões a partir de uma pesquisa empírica baseada em análise documental, observação participante em eventos e entrevistas com membros do Slow Food Brasil. Os resultados da pesquisa demonstram que o Slow Food possui uma ética que mistura características hedonistas e ascéticas. Assim, o estilo de se alimentar e os discursos de seus membros carregam em seu interior uma tensão entre as duas. Encontramos uma associação direta entre o Slow Food e as práticas religiosas. Eventos como o “Terra Madre”, realizado em Turim, Itália, fazem com que os membros atuem como “fiéis”, e a assembleia se configure como um culto, semelhante às práticas adotadas por algumas denominações religiosas. Observou-se, também, que a incorporação dos valores “limpo” e “justo” está intimamente relacionada ao processo de ambientalização e politização do consumo. Por último, foi abordada a relação entre diferentes atores dentro do Slow Food, em especial, o diálogo entre Chefs de cozinha e pequenos agricultores.