A obtenção de dados por meio da avaliação da habilidade de cuidado do cuidador é
uma condição básica para promover a qualidade de cuidado dispensado ao
indivíduo em situação de cronicidade. Objetivos: realizar a adaptação transcultural
do Caring Ability Inventory (CAI) para utilização no contexto de assistência
oncológica do Brasil; verificar a validade e confiabilidade do CAI adaptado ao
português do Brasil, com cuidadores informais de pacientes com diagnóstico de
câncer cuidados no domicílio e enfermeiros de instituições credenciadas para o
atendimento desses pacientes; identificar as características sociodemográficas dos
cuidadores informais e dos enfermeiros. Material e método: estudo metodológico
desenvolvido entre dezembro de 2012 a abril de 2013, após autorização do Comitê
de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo/SP-Brasil (CAE nº
115.973). Na etapa de adaptação transcultural do instrumento CAI, composto por 37
questões com opções de resposta variando de “discordo fortemente” a “concordo
fortemente”, participaram quatro tradutores e um comitê de especialistas. Após a
síntese da tradução e retrotradução do instrumento e da sua avaliação quanto à
equivalência semântica, idiomática e conceitual entre a versão original e a adaptada
ao português do Brasil, o comitê de especialistas o enviou a sua mentora a fim de
aprovação. A seguir foi realizado o pré-teste da versão final adaptada, com uma
amostra de 80 sujeitos (50 CIs e 30 enfermeiros) de um hospital de grande porte que
é referência para o atendimento de pacientes em tratamento oncológico, situado na
região Sul do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Para análise das propriedades
psicométricas do instrumento foi calculada uma amostra de 212 sujeitos (148 CIs e
64 enfermeiros) e procedeu-se da seguinte maneira: análise de reprodutibilidade do
instrumento, por meio do teste-reteste junto aos 80 participantes do pré-teste,
utilizando o Coeficiente de Correlação Intraclasse (ICC), e análise da consistência
interna com os 212 participantes, utilizando o Coeficiente de Alfa de Cronbach e
análise fatorial. Resultados: na adaptação transcultural do CAI ao português do
Brasil, houve 100% de concordância entre as especialistas em 32 (86,5%) questões
e, nas cinco restantes (13,5%) foram feitas sugestões posteriormente incorporadas à
versão final do instrumento, dando origem ao Inventário de Habilidade de Cuidado
(IHC), que manteve as 37 afirmativas, a ordem, o conteúdo e a escala de
classificação das mesmas, conforme proposição da autora. Após o pré-teste,
alterou-se a escala de resposta das afirmativas, de sete para cinco pontos. O perfil
sociodemográfico dos cuidadores informais caracterizou-se pelo predomínio do sexo
feminino (75%), com idade entre 31 e 60 anos (27%), com ensino fundamental
(42,6%), classificação ABEP-C1 (31,8%), casados/união estável (81,7%), e que
desenvolvem atividades remuneradas (40,5%). No que se refere às características
do cuidado prestado, 68,9% deles residem com o paciente, 80,7% envolvem-se no
cuidado diuturnamente, 43,9% são cônjuges, 64,9% prestam o cuidado entre um e
cinco anos, 61,5% necessitam do auxílio de terceiros, 93,5% são auxiliados pelos
familiares, 93,5% diariamente, 65,2% em consultas, 64,1% no auxílio para alimentação e 60,9% necessitam de auxílio para deslocamento de carro. Em relação
aos enfermeiros também predominou o sexo feminino (85,9%), na faixa entre os 21
e 30 anos (53,2%), casadas (64,0%), ABEP-B1, com tempo de trabalho como
enfermeiras entre um e cinco anos (51,6%), no período da manhã ou tarde (58,7%).
Na avaliação da confiabilidade analisou-se a estabilidade do instrumento e de suas
subescalas, por meio do coeficiente de correlação intraclasse, cujo resultado geral
foi de 0,76, indicando excelente reprodutibilidade. Também foi analisada a
consistência interna, verificada por meio do coeficiente de Alfa de Cronbach, com
um nível de significância de 0,05. O valor obtido (0,78) é indicativo de boa
consistência interna. Para analisar a validade do instrumento, utilizou-se a análise
fatorial, cujo resultado evidenciou que alguns dos 37 itens do Inventário Adaptado
não mantiveram os agrupamentos e o número de afirmativas, conforme distribuídas
nas três dimensões do instrumento original. Porém, as cargas fatoriais, que se
mantiveram agrupadas mostram a existência de correlação entre as dimensões do
instrumento e os itens correspondentes. Conclusão: a versão do Inventário de
Habilidade de Cuidado, produzida a partir da adaptação transcultural do Caring
Ability Inventory, mostrou-se confiável e válido. Entende-se, no entanto, que são
necessárias novas pesquisas junto a outros grupos da população brasileira com
vistas a estudar uma possível distribuição fatorial diferente, nas três dimensões que
constituem esse instrumento.