Considerada pela crítica uma das mais enigmáticas criações de William Faulkner, a personagem Darl Bundren, de As I Lay Dying (1930), é aqui analisada à luz do pensamento do filósofo alemão Arthur Schopenhauer, principalmente no que diz respeito à noção do homem de gênio, conforme apresentado no terceiro livro de O Mundo como Vontade e como Representação (1819). Em As I Lay Dying, o autor leva ao extremo suas experimentações ficcionais por meio de 59 monólogos de quinze narradores que se revezam para contar a jornada da família Bundren, da qual participam direta ou indiretamente. Em uma carroça, a família de pequenos agricultores transporta o cadáver de sua matriarca até Jefferson, a capital do condado imaginário Yoknapatawpha, a fim de cumprir a promessa de enterrá-la junto ao restante de seus familiares. Mais adiante, nota-se que aquilo que se poderia chamar de uma verdadeira odisseia não é concluída pela maior parte dos Bundrens por honra à memória da mãe, mas sim por suas ambições pessoais. Enquanto os demais Bundrens, em termos schopenhauerianos, permanecem presos ao mundo do conceito e da abstração, Darl parece contemplar nesses mesmos objetos a sua verdade, desprezando uma reflexão superficial sobre a utilidade que teriam no mundo fenomênico. Dessa forma, a personagem seria como o homem de gênio, o “puro sujeito que conhece” (SCHOPENHAUER, 2005, p. 254), o único que possui uma sensibilidade artística e que se entrega à seu trágico destino porque o mundo à que sua família se confina “não é o seu mundo” (FAULKNER, 2002, p. 223). A fim de fazer essa aproximação entre o pensamento schopenhaueriano e o herói faulkneriano, esta dissertação se divide em quatro capítulos. O capítulo introdutório discutirá brevemente o movimento modernista americano, seu contexto histórico, os problemas nele tratados, além de sua diversidade de temas. Além disso, discute-se o contexto de produção de Faulkner, com uma extensa revisão bibliográfica sobre as especificidades de sua obra e suas principais preocupações literárias. Uma revisão bibliográfica da fortuna crítica de As I Lay Dying é apresentada no primeiro capítulo. No segundo, apresenta-se um delineamento de O Mundo para que se faça melhor compreender a teoria do homem de gênio. Aqui, buscar-se-á ainda aproximar a filosofia schopenhaueriana à obra de Faulkner, a partir da discussão de trabalhos que lograram unir uma ou outra de suas preocupações estéticas às premissas do filósofo de Frankfurt. Por fim, no terceiro capítulo, será realizada a análise do romance a partir da noção schopenhaueriana do homem de gênio.