A conjuntivite felina é uma enfermidade frequente em animais domiciliados, de abrigos e de
vida livre. Os microorganismos associados com maior frequência a conjuntivite são:
herpesvirus felino tipo-1 (FHV-1), calicivirus felino (FCV), Mycoplasma felis (M. felis) e
Chlamydophila felis (C. felis). Estes agentes vêm sendo identificados sozinhos ou em
infecções polimicrobianas, mas não existem até o momento, dados disponíveis que associem
a gravidade dos sinais clínicos oftalmológicos com esses patógenos, bem como quais as
variantes destes agentes em circulação na região metropolitana do Rio de Janeiro. O objetivo
geral deste trabalho foi realizar o diagnóstico molecular dos principais agentes microbiológicos
associados à conjuntivite felina e realizar a caracterização molecular de FHV-1 e FCV
encontrados nas cidades do Rio de Janeiro e Niterói. Foram realizados 108 coletas por meio
de citobrush de conjuntiva de gatos assintomáticos (G1, n=40) e com sinais de conjuntivite
(G2, n=68). A idade dos animais variou de 2 meses a 1 ano. Os sinais oftalmológicos de
conjuntivite foram categorizados conforme a gravidade em um escore de 1 a 4. O genoma
(DNA e RNA) foi extraído, o cDNA sintetizado imediatamente após o término da extração. A
reação em cadeia pela polimerase (PCR) e Nested-PCR para detecção de agentes virais
foram realizadas utilizando pares de iniciadores que amplificam: um fragmento de 287 pb do
gene que codifica para a enzima timidina quinase (TK) dos FHV-1 e um fragmento de 467 pb
do gene que codifica para RNA polimerase RNA dependente (RpRd) dos FCV. A PCR foi
realizada para os agentes bacterianos utilizando pares de iniciadores que amplificam um
fragmento de 187 pb do gene que codifica para o 16S/23S rRNA intergênico de M. felis e um
fragmento de 1094 pb do gene que codifica para a região do 16S de C. felis. Foi realizado o
sequenciamento e análise filogenética das amostras positivas para FHV-1, FCV e dos
controles positivos de M. felis e C. felis. O genoma do FHV-1 foi detectado em 62/108
amostras, do FCV em 40/108, M. felis em 11/108 e C.felis em 26/108. Infecções
polimicrobianas foram detectadas em 39/108 amostras. Foi realizado sequenciamento e
análise filogenética do gene que codifica para TK de 23 amostras positivas para FHV-1. Esta
região apresentou pouca variabilidade genética e não foi possível estabelecer uma
associação entre as características genéticas da amostra com o local de coleta ou sinais
clínicos dos animais. Oito amostras de FCV foram sequenciadas e a análise do fragmento de
RdRp evidenciou a formação de dois clusters distintos, um deles constituído somente por
amostras deste estudo e outro por amostras deste estudo e protótipos disponíveis no
Genbank, sugerindo a circulação de duas variantes distintas de FCV. Em G1 (40 olhos), 70,0%
das amostras foram positivas para um ou mais agentes pesquisados. Em G2, 85,3% das
amostras foram positivas para um ou mais agentes pesquisados, sendo que 17,2% para FHV-1,3,4% para FCV, 1,7% para M.felis e 1,7% para C. felis. As coinfecções representaram 51,5%
das amostras. Estes dados reforçam a importância do diagnóstico molecular possibilitando ao
clinico o direcionamento de uma terapêutica adequada, permitindo adoção de técnicas de
manejo eficientes no controle destes agentes. O FHV-1 foi o patógeno mais frequente em G1.
Concluiu-se que escores mais altos estão relacionados aos casos de co-infecções. E, por
último, M. felis e C.felis são patógenos oportunistas nos casos de conjuntivite.