A proposta desse texto é fazer uma introdução ao conceito de baraperspectivismo, mostrando como sua criação está necessariamente vinculada aos dispositivos do pensamento trágico que se engendram, por um lado, com a filosofia de Nietzsche e que, por outro lado, brotam a partir da “experiência metafísica” proporcionada pelo “ritual trágico yorùbá”, segundo a concepção de Wole Soyinka. De acordo com seu caráter antagônico em relação ao conhecimento centrado na crença incondicional na razoabilidade e no poder epistêmico da razão, que fomentou, inclusive, na modernidade, a intensificação dos discursos racistas da filosofia e da ciência, que eliminaram do corpo do preto suas capacidades de produção epistêmica e sua própria condição humana, o baraperspectivismo propõe uma denúncia do logocentrismo, a partir da constituição de um pensamento trágico que leva em conta a experiência sociocultural dos pretos, consolidada no contexto da diáspora africana. Contra o pressuposto científico da inferioridade racial dos pretos, o baraperspectivismo impõe o pressuposto da arte e do instinto de criação que se encontra na base do pensamento metafísico yorùbá como elemento afirmativo e emblemático da potência civilizatória africana. Assim, é o conceito de “situação colonial”, inventado por Frantz Fanon, que contribuirá para elucidar o sentido do antagonismo entre colonizador e colonizado, em que o baraperspectivismo se insere. Além disso, e de um modo fundamental, é o simbolismo do òrìsà Èsù, ou Bara, o “rei do corpo”, que se encontra preservado no arcabouço dos mitos yorùbá, que fornecerá os elementos necessários à constituição dessa filosofia do trágico que deverá, daqui por diante, contribuir também com a crítica do modelo civilizatório racista empregado na formação da sociedade brasileira.