A feminização da epidemia é um dos grandes desafios atuais da prevenção a AIDS. As políticas de prevenção vigente não estão reduzindo o aumento da epidemia neste segmento. Este estudo objetivou investigar o processo de ensino-aprendizagem sobre prevenção a AIDS e a apreensão destes conhecimentos para a possível mudança de atitude das mulheres adultas assistidas pelo Instituto Joana d’Arc.
Pesquisa de caráter explicativa utiliza a abordagem qualitativa, desenvolvida em quatro grupos de fortalecimento familiar e comunitário conduzidos pelo Instituto Joana d’Arc na cidade de Bertioga, em São Paulo, através de uma estratégia denominada Roda de Conversa, no período de março/2013 a fevereiro/2014.
O estudo envolveu as seguintes etapas: observação in loco de 14 Rodas de Conversa desenvolvidas nos Centros de Referência em Assistência Social de Bertioga, São Paulo; entrevista com um profissional da entidade responsável pela aplicação dos conteúdos na comunidade; a aplicação de um questionário de inclusão ou não inclusão junto às mulheres dos grupos pesquisados; realização de duas entrevistas semiestruturadas com as mulheres selecionadas. O objetivo era o de entender as relações sociais e de gênero, a sua percepção de risco para o HIV e a possibilidade de estar vulnerável a AIDS.
Foram aplicados 65 questionários para as mulheres com faixa etária entre 18 e 60 anos e, após o critério de inclusão na pesquisa resultou em 22 mulheres para primeira entrevista, sendo sete no Grupo 1; quatro no Grupo 2; oito no Grupo 3 e três no Grupo 4. Na segunda pesquisa, nove mulheres foram entrevistadas, sendo quatro do Grupo 1; uma do Grupo 2; duas do Grupo 3; duas do Grupo 4.
As entrevistas aconteceram em dois momentos específicos, em julho e agosto/2013 e nos meses de janeiro e fevereiro/2014, com o intuito de analisar os resultados obtidos nos dois processos, a existência de similaridades ou divergências de absorção de informações, a aquisição de novos conhecimentos e se há uma efetividade no modelo de ensino-aprendizagem aplicado pela entidade, como forma de auxiliar na elaboração de estratégias preventivas que permitam a melhor apreensão de conhecimentos sobre AIDS, com a redução do risco de infecção pelo HIV e outras DST. Para a análise de conteúdo, utilizamos a proposta de Bardin.
Para os grupos estudados, há uma dificuldade na percepção do risco ao HIV nas suas relações afetivo-sexuais pelo não reconhecimento da sua possibilidade de infecção. Os resultados comprovam que as mulheres reconhecem as formas de transmissão, prevenção e proteção, as principais doenças sexualmente transmissíveis e que há uma evolução dos conhecimentos entre os períodos das entrevistas. Porém, não há a apreensão de conhecimentos e a aplicação em suas práticas em seu cotidiano.
Os fatores que dificultam a assimilação dos conteúdos são as relações afetivas e de desejo – confiança, papéis sociais e relações de gênero; os tabus referentes à sexualidade; baixo conhecimento de educação em saúde, acarretando na forma de como os indivíduos interpretam e absorvam estas diferenças.
Os esforços da entidade para diminuir essa problemática estão no caminho certo, com a aplicação de Rodas de Conversa como estratégia de ensino-aprendizagem em saúde, mas não há um projeto metodológico definido que organize as ações a ser aplicada junto ao este segmento populacional.
Os resultados demonstram a necessidade da criação de um Projeto Político Pedagógico Institucional que estabeleça, no processo metodológico de ensino em saúde, as informações relacionadas à AIDS e que contemplem toda a diversidade cultural, educacional e social das mulheres, traçando um paralelo entre saúde sexual e reprodutiva, a epidemia de AIDS e as relações de gênero. Para a sua execução, deve considerar, além dos conhecimentos prévios de cada indivíduo, extensivo a seus parceiros ou a população masculina de seu contexto social, as diferentes formas de aprendizagem, através da troca de experiências, das histórias de vida e que permitam escolhas conscientes dos meios preventivos de acordo com seu modo de vida.