Introdução: Os avanços obtidos nas últimas décadas permitiram a cura de mais de 80% dos pacientes com Tumor de Wilms. Entretanto, cerca de 60% dos sobreviventes desenvolvem problemas crônicos de saúde. As complicações tardias são consequência do tipo e intensidade do tratamento recebido. A terapia preconizada para Tumor de Wilms estádios iniciais produz mínimos efeitos em longo prazo. Em contraste, pacientes com doença avançada, histologia desfavorável ou recidivados requerem o uso de doxorrubicina e radioterapia, aumentando as chances de sequelas. Objetivo: Avaliar os efeitos tardios (disfunção renal, miocardiopatia, deformidades musculoesqueléticas, alteração do desenvolvimento puberal, infertilidade e segunda neoplasia) nos sobreviventes de Tumor de Wilms no Instituto de Oncologia Pediátrica/GRAACC/UNIFESP nos últimos 20 anos. Métodos: Os pacientes foram divididos em dois grupos: aqueles tratados de 1991 a 2001, segundo o protocolo do Grupo Brasileiro (GCBTTW) (grupo 1) e os tratados de 2002 a 2011, segundo o protocolo da Sociedade Internacional de Oncologia Pediátrica (SIOP) (grupo 2). Foi realizado levantamento de prontuário, exame clínico dos pacientes (sinais vitais, crescimento linear, composição corporal, o desenvolvimento puberal e alterações musculoesqueléticas), avaliação da função renal (ritmo de filtração glomerular) e cardíaca (eletrocardiograma e ecocargiograma). Resultados: Dos 204 pacientes com Tumor de Wilms registrados de 1991 a 2001, 78 foram excluídos do estudo; dos 126 elegíveis, 70 eram do grupo 1 e 56 do grupo 2. Não houve diferença entre os grupos com relação à idade ao diagnóstico, sexo, procedência, apresentação clinica, estadiamento, uso de radioterapia. Houve diferença com relação ao tratamento inicial, já que o GCBTTW preconizava cirurgia inicial e a SIOP quimioterapia. A ruptura, especialmente intra-operatória foi mais frequente no grupo 1, bem como o uso de radioterapia abdominal e doxorrubicina. Dos 79 pacientes avaliados clínica e laboratorialmente, 32 eram do grupo 1 e 47 do grupo 2. Não houve diferença entre os grupos com relação aos z-escores de peso e IMC, índices de gordura abdominal, alterações musculoesqueléticas, desenvolvimento puberal, disfunção cardíaca ou renal. Nenhum paciente desenvolveu segunda neoplasia. O grupo 1 apresentou menor crescimento linear e estatura sentada que o grupo 2. A radioterapia afetou o crescimento em ambos os grupos, porém o grupo 1, onde a maior parte dos pacientes já atingiu sua estatura final, sofreu mais esse efeito. Hipertensão (29,1%), estatisticamente mais frequente no grupo 1, foi a alteração mais comumente encontrada nesta população, seguida da redução da taxa de filtração glomerular (26,6%). Deformidades musculoesqueléticas foram detectadas em 24,1% dos pacientes avaliados, disfunção cardíaca em 21,9% e alteração puberal em 2,5%. Conclusão: Algum tipo de efeito tardio foi encontrado em 63,3% dos pacientes avaliados: 65,6% do grupo 1 e 61,7% do grupo 2. A maior parte (39,2%) deles apresentou um único efeito tardio; 20,3% apresentaram duas alterações e 3,8% três. Apesar das altas taxas de cura, o seguimento em logo prazo é mandatório para esses sobreviventes que apresentam sequelas em longo prazo.