Objetivo: Avaliar a qualidade de vida em indivíduos com deficiência visual secundária à uveíte e sua
associação com aspectos sociodemográficos, clínicos e psicossociais. Materiais e Métodos: Foram
selecionados, no Departamento de Oftalmologia do Hospital São Paulo/Universidade Federal de São
Paulo, 80 indivíduos com deficiência visual em ambos os olhos (acuidade visual pior ou igual a 20/70
no olho de melhor visão), reversível ou não, secundária à uveíte infecciosa ou não infecciosa,
diagnosticada há pelo menos 12 meses. Os dados foram coletados por meio de entrevistas
individuais, utilizando quatro formulários: o SF-12v2, o HADS, o NEI-VFQ-25 e o formulário do estudo,
para coleta de informações clínicas e sociodemográficas. Revisão retrospectiva dos prontuários foi
realizada para confirmação dos critérios de elegibilidade. Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da UNIFESP/HSP. Resultados: Considerando-se a data do diagnóstico de uveíte, a média
de idade foi de 42,8 anos e, considerando-se a data da entrevista, 48,8 anos; 63,8% eram do sexo
feminino e 52,5% brancos, 90% deles viviam com cônjuge e/ou família, 46,3% casados, 72,5% com
renda familiar de até R$ 3.000,00. Com relação ao grau de instrução, 33,8% com ensino fundamental,
48,8% com ensino médio e 13,8% com ensino superior. Devido à deficiência visual, 56,2% relataram
alteração de ocupação profissional; 57,5% redução permanente de renda; 52,5% redução de carga
horária de trabalho; 58,7% recebiam aposentadoria e 8,8% encontravam-se formalmente
empregados. Quanto às características clínicas, 45% com uveíte infecciosa, sendo tuberculose e
toxoplasmose as principais causas, e 55% com diagnóstico de uveíte não infecciosa, sendo 43,2%
idiopáticas e 27,3% Vogt-Koyanagi-Harada. Baixa visão ou cegueira moderada observada em 63,8%
e cegueira grave em 36,3% dos pacientes. O tempo de duração da doença ocular foi inferior a cinco
anos em 58,8% da amostra. Foram observadas comorbidades sistêmicas em 77,5% dos pacientes,
sendo hipertensão e depressão as mais frequentes. Presença de outras doenças oculares ocorreu
em 78,8% da amostra, sendo catarata e glaucoma as mais frequentes. As terapias mais utilizadas
foram o uso isolado de corticosteroide sistêmico (32,5%) e o uso associado de corticosteroide e
imunossupressor (16,3%). Considerando os últimos 12 meses, 50% dos pacientes relataram
ocorrências de quedas. A média de consultas médicas para tratamento ocular e/ou complicações
associadas, foi de 15,2/ano (SD ± 10,7). A média dos escores dos questionários de qualidade de vida
foi: CFS 43,3 ± 9,9 e CMS 44,9 ± 12,2 (SF-12) e EGC 36,6 ± 15,1 (VFQ-25). Sintomas de ansiedade
foram observados em 65,1% e de depressão em 32,5% dos pacientes, medidos através da escala
HADS. Conclusões: Esta amostra apresentou escores reduzidos de qualidade de vida relacionada à
função visual e à saúde geral. Aspectos sociodemográficos, clínicos e psicossociais mostraram
associações significativas com as subescalas dos questionários de qualidade de vida e com os
sintomas de ansiedade e depressão.