Investigação realizada com o objetivo de compreender como o professor
organiza as condições de ensinar a ler e escrever a partir do livro didático de
alfabetização.Considera o livro como um objeto material da cultura escolar, que
contribui na determinação de formas de pensar e de agir dos professores. Explicita
que o livro didático, embora seja elemento central no processo educativo e foco de
pesquisas educacionais, principalmente no âmbito da história da educação, só
recentemente passou a ser objeto de estudo em pesquisas educacionais que
buscam compreender o significado destes materiais nas aulas e o uso que fazem
dele professores e alunos. Acredita que o estudo do livro didático e a compreensão
dos processos constitutivos da experiência escolar, possibilitam, a partir das
relações cultura e escola, analisar e desentranhar as especificidades dos saberes e
práticas que emergem do cotidiano da escola, delimitando-a como foco e campo de
estudo. Para tanto se estabelece um diálogo com conceitos teóricos e autores, entre
eles Jean Claude Forquin, Elsie Rockwell, Alain Choppin e François Dubet, os quais
fundamentam as análises realizadas. Utiliza, para a produção de dados, a pesquisa
de cunho etnográfico considerada como opção teórico-metodológica principal, por
possibilitar captar a heterogeneidade da escola e compreendê-la no seu fazer
cotidiano. Compreende a etnografia segundo a vertente desenvolvida por Rockwell
(1986, 2009), considerando como seu papel principal a construção de
conhecimentos sobre a escola e defendendo que estes possam apontar novas
possibilidades de relação com o trabalho educativo. Utiliza como procedimentos
metodológicos, prioritariamente, a observação participante e de forma complementar
a entrevista e a análise documental. Realiza estudo empírico na rede municipal de
ensino do município de Curitiba no ano de 2011, caracterizado como estudo
exploratório e em 2012 o estudo principal, em turmas de segundo ano do ensino
fundamental. Organiza as análises a partir do trabalho de campo em duas categorias
analíticas, uma que busca compreender o livro de alfabetização no contexto do
trabalho escolar, voltada aos processos de seleção de livros didáticos e de avaliação
escolar e outra, que especifica aspectos da trajetória de uso do livro na direção dos
protocolos de leitura característicos do livro didático de alfabetização. Considera que
o livro didático é pouco explorado em suas inúmeras possibilidades didáticas, tanto
no volume de atividades que não são utilizadas durante o ano como na exploração
das propostas apresentadas. A subutilização não se restringe apenas ao livro de
alfabetização, pôde ser constatada nos demais materiais didáticos destinados à
alfabetização. Conclui defendendo que as práticas de ensino e de leitura do
professor estabelecem com o livro novas formas de relação, novas práticas culturais
que redefinem novos usos e sentidos para o livro didático.