A angiogênese é o processo que se caracteriza pelo crescimento de novos vasos sanguíneos a partir de uma rede vascular preeexistente. Trata-se de um processo complexo de múltiplos passos, que inclui proliferação, migração e diferenciação de células endoteliais, degradação de matriz extracelular, formação de microtúbulos e surgimento de novas ramificações capilares. Fatores angiogênicos tais como Fator de Crescimento Fibroblástico Básico (bFGF), Fator de Crescimento Vascular Endotelial (VEGF) e o Fator de Crescimento Epidérmico (EGF) têm sido usados como indutores angiogênicos. bFGF é o membro protótipo de 13 fatores de crescimento de ligação à heparina estruturalmente afins e é conhecido como um mitógeno para vários tipos de células, incluindo as células endoteliais vasculares e fibroblastos. Miquerol e colaboradores produziram camundongos que possuíam VEGF-LacZ. Isso foi possível inserindo-se um gene identificador (repórter) na região 3i não transcrita do gene endógeno do VEGF. Desta maneira, foi possivel produzir RNAm do VEGF que contém o identificador LacZ (repórter) . O equilíbrio entre os fatores angiogênicos e antiangiogênicos é o responsável pela regulação da angiogênese. Estudos mostram os efeitos de um inibidor específico de VEGF: o VEGF TrapR1R2, que é a fusão da Proteína Humana de Domínio Fc com o segundo domínio do receptor R1 e o terceiro domínio do receptor R2 e que tem o poder de sequestrar e antagonizar o VEGF e, por consequência, prevenir a formação de vasos sanguíneos. Os objetivos deste estudo são: demonstrar que a córnea de camundongos produz VEGF quando estimulada por bFGF e demonstrar que a administração intraperitoneal de VEGF TrapR1R2 inibe a produção de VEGF e a angiogênese. Sedimentos controles e sedimentos contendo 80ng de bFGF foram cirurgicamente implantados em córneas de camundongos selvagens C57BL/6 e VEGF-LacZ. As córneas foram fotografadas e retiradas, e a porcentagem de vascularização da córnea foi calculada. As córneas foram avaliadas quanto à expressão de VEGF e neovascularização com uso de Microscopia Confocal. Após o implante de sedimentos contendo bFGF, camundongos VEGF-LacZ receberam injeções na veia da cauda de uma lectina endotelial específica para determinar a relação temporal e espacial entre a expressão de VEGF e neovascularização da córnea com uso microscopia confocal. Western Blot foi utilizado para análise da presença de VEGF em córneas de camundongos selvagens que receberam o implante de sedimentos contendo bFGF. Foi avaliada a neovascularização da córnea que recebeu o implante de sedimento contendo bFGF após a administração de injeções intraperitoneais de VEGF TrapR1R2 ou como controle de uma Proteína Humana de Domínio Fc (hFc). A neovascularização do estroma começou no quarto dia após o implante de sedimentos contendo bFGF e foi mantida até o vigésimo primeiro dia.
A expressão de VEGF-LacZ correlacionou com a progressão das células vasculares endoteliais. A análise de Western blot mostrou aumento da expressão do VEGF na zona vascularizada da córnea. Após o implante de sedimentos contendo bFGF, a área de neovascularização da córnea em controles que não foram tratados foi de 1,05 ± 0,12 mm2 e 1,53 ± 0,27 mm2 para os dias 4 e 7, respectivamente. Isso foi significativamente maior do que a dos camundongos tratados com VEGF TrapR1R2 (0,24 ± 0,11 mm2 e 0,35 ± 0,16 mm2 para os dias 4 e 7, respectivamente, p<0,05). A córnea avascular depende de um balanço entre vários fatores angiogênicos endógenos (incluindo VEGF, bFGF) e fatores antiangiogênicos; quando este balanço é quebrado por algum motivo, ocorre a vascularização corneana. Este estudo sugere que a córnea de camundongo produz VEGF, quando estimulada com bFGF. As proteínas de VEGF são de grande importância na neovascularização corneana, pois funcionam como fatores estimulantes de células endoteliais vasculares. Entretanto, o mecanismo específico da regulação da produção de VEGF pela estimulação de bFGF ainda não foi inteiramente elucidado. Já foi demonstrado que a injeção de VEGF TrapR1R2 bloqueia a formação de vasos sanguíneos em córneas de camundongos submetidas a sutura. Utilizando técnica diferente para indução de neovascularização, nós demonstramos que VEGF TrapR1R2 bloqueia neovascularização em córneas que tiveram implante de sedimentos contendo bFGF. Mais experimentos são necessários para dissecar o papel de bFGF na produção de VEGF e o seu bloqueio com o uso de VEGF TrapR1R2. Provavelmente, este mecanismo contribuirá para a prevenção da neovascularização corneana. A córnea de camundongo expressa VEGF após o estímulo por bFGF. A administração sistêmica de VEGF TrapR1R2 bloqueia a vascularização da córnea de camundongo desencadeada pelo implante de sedimentos contendo bFGF. A administração sistêmica de VEGF TrapR1R2 pode ter potenciais aplicações terapêuticas no manejo da neovascularização da córnea.