Compreender a percepção dos cuidadores sobre o cuidado prestado aos moradores e sobre os Serviços Residenciais Terapêuticos de Alfenas/MG. Método: Estudo qualitativo para o qual foram entrevistados 15 cuidadores. As entrevistas foram gravadas, transcritas e categorizadas em temas em acordo com a análise de conteúdo de Bardin. Para a análise dos dados utilizou-se referenciais teóricos da reforma psiquiátrica e da Política Nacional de Saúde Mental, autores que discutem a assistência em Saúde Mental e a reforma psiquiátrica brasileira. Resultados: Os resultados obtidos foram agrupados em dois eixos temáticos: o cuidado no Serviço Residencial Terapêutico e o Serviço Residencial Terapêutico no contexto da reforma psiquiátrica. No primeiro eixo temático verificou-se que as práticas de cuidado nos serviços eram ambíguas, com ações voltadas para o bem-estar dos moradores, mas também práticas manicomiais com relações de poder verticalizadas, violência, ociosidade, prisão, negligências, controlar, vigiar e punir e observação pouco utilizada como recurso terapêutico. Verificou-se a ocorrência de mortes, que causaram sofrimento para alguns cuidadores e desconfiança a outros. Mesmo com o cuidar revelado como difícil e com riscos de agressão física e verbal, o cuidador sentia-se orgulhoso, gratificado e satisfeito pessoalmente com o trabalho. Atributos pessoais que contribuíam para produzir o cuidar de qualidade foram descritos. A concepção de cuidado foi ambígua entre os cuidadores, ora estruturada sobre proximidade, sentimentos, significados e construção de vínculo, que por vezes adquiria aspecto negativo quando o cuidador confundia o papel de profissional com assistencialismo, protecionismo, maternalismo, a impedir que o morador atingisse sua autonomia para poder gerir a própria vida e de fato assumisse seu papel de cidadão, como preconiza a reabilitação psicossocial, pressuposto da reforma psiquiátrica. Ora a concepção de cuidado era influenciada pela concepção social da loucura ou do transtorno mental enquanto incapacitante e excludente. Em relação ao Serviço Residencial Terapêutico no contexto da reforma psiquiátrica, verificamos
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que há muito que se progredir, como melhorar a qualificação e capacitação dos funcionários. A demora em tomar atitudes por responsáveis técnicos e a falta de capacitação e supervisão dos cuidadores os levaram às práticas pautadas sobre a experiência, aprendidas pelo fazer ou por imitação do comportamento de outros cuidadores. Cada cuidador fazia o que achava que era o mais correto segundo seu julgamento e parâmetros, por isso incorreram em erros que poderiam levar a fatalidades. Havia falta de coesão entre a equipe, não havia continuidade das ações por serem individualizadas entre os cuidadores. Não havia reuniões de equipe para se discutir problemas organizacionais relacionados ao trabalho e o Projeto Terapêutico Singular dos moradores era inexistente para nortear as intervenções da equipe. Conclusões: Concluímos que os Serviços Residenciais Terapêuticos, propostos para substituir os hospitais psiquiátricos e suas práticas asilares, mantinham práticas manicomiais e características de instituição total e não estavam desempenhando seu papel segundo as propostas e pressupostos teóricos da reforma psiquiátrica e da Política Nacional de Saúde Mental.