O câncer é uma das doenças mais importantes na atualidade, constituindo a segunda maior causa de mortes nos países industrializados depois das doenças cardiovasculares. A introdução, a partir de 1978, do composto de coordenação cisplatina, na quimioterapia do câncer, representou um marco na história da Química Inorgânica Medicinal, e constituiu um importante avanço no tratamento de diversos tipos de tumores. Desde então, desenvolveu-se uma intensa busca por novos complexos metálicos que também apresentassem atividade antitumoral, mas com baixa toxicidade para o organismo. Sendo assim, este trabalho teve como objetivo o desenvolvimento, caracterização e avaliação da atividade antineoplásica de compostos de coordenação previamente descritos de cobre e de novos compostos de zinco contendo as formas isoméricas do grupo naftol em suas estruturas, frente a duas linhagens de células leucêmicas humanas (U-937 e THP-1) e duas linhagens de melanoma (SKMEL-5 e B16F10). Os ligantes tiveram sua caracterização confirmada através de espectroscopia no infravermelho, RMN1H e ponto de fusão. Os compostos de coordenação de cobre tiveram sua caracterização confirmada por espectroscopia de infravermelho e análise elementar (CHN). Os compostos de coordenação de zinco foram caracterizados por espectroscopia de infravermelho, análise elementar, condutivimetria e espectrometria de massas com ionização por electrospray (ESI(+)-MS e ESI(+)-MS/MS). O ensaio de viabilidade por MTT mostrou que o ligante 1-{2-hidroxibenzil(2-piridilmetil)amino}-3-(1-naftiloxi)-2-propanol (Lα) e os compostos de cobre, [Cu(Lα)Cl]Cl2H2O (Cuα) e [Cu(Lβ)Cl]Cl3H2O (Cuβ) mas não o ligante 1-[2-hidroxibenzil(2-piridilmetil)amino]-3-(2-naftiloxi)-2-propanol (Lβ) e os compostos de zinco, [Zn(Lα)Cl] (Znα) e [Zn(Lβ)Cl] (Znβ) foram capazes de diminuir a viabilidade de todas as linhagens neoplásicas de maneira concentração-dependente. O composto Cuα foi o mais ativo e os valores de EC50 foram de 14, 11, 28 e 35 μM, para as linhagens U937, THP-1, SKMEL-5 e B16F10, respectivamente. Os compostos de cobre, bem como o ligante Lα demonstraram ser mais seletivos para células neoplásicas frente às céulas mononucleares do sangue periférico (PBMC). O composto Cuα apresentou EC50 de 166 μM para essas células, contra 44 μM da cisplatina. Esse composto demonstrou também, in vivo, ser menos tóxico do que a cisplatina para camundongos C57BL/6. A dose letal mediana (DL50) foi de 55 mg/kg para o composto Cuα contra 6,6 mg/kg da cisplatina. O conjunto de dados fornecido pela microscopia de fluorescência, marcação com anexina V, análise do ciclo celular (sub-G1) e padrão de fragmentação do DNA em gel de agarose, demonstrou que os compostos de cobre induzem morte celular por apoptose nas linhagens celulares testadas de maneira dose e tempo-dependente. A análise do potencial de membrana mitocondrial, juntamente com marcação fluorescente, microscopia eletrônica de transmissão e detecção da liberação de citocromo C mostraram o comprometimento mitocondrial durante o processo de apoptose induzido pelo composto Cuα. No entanto, o ensaio de avaliação de caspases ativadas demonstrou que o sinal apoptótico aparece bem mais cedo do que os efeitos observados na mitocôndria. Esse fato nos levou a propor que o composto Cuα ativa a via de receptores de morte. Esse sinal, então, seria amplificado pela mitocôndria, o que levaria ao processo de morte celular programada por apoptose. Esses resultados mostram que o composto Cuα inibe o crescimento de células neoplásicas in vitro por
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induzir morte celular por apoptose e que ambas as vias apoptóticas estão ativadas (extrínseca e intrínseca). Além disso, foi possível observar que esse composto foi menos tóxico para células normais do que a cisplatina, o que o torna promissor na busca de novos fármacos com atividade antitumoral que sejam mais potentes e menos tóxicos.