O suicídio se apresenta como fenômeno complexo, que vem registrando aumento em seus números, nacional e internacionalmente; sendo considerado problema de saúde pública, com altos custos financeiros e emocionais para os envolvidos. Esta dissertação buscou investigar sentidos do suicídio atribuídos por mães à morte voluntária de seus filhos, como também identificar e discutir possíveis relações entre esses sentidos e as interpretações epidemiológicas do suicídio encontradas na literatura consultada, desenvolvendo uma apreciação crítica decorrente dessas comparações, pautada por uma leitura fenomenológica. Para atender aos objetivos propostos, optou-se por metodologia qualitativa, inspirada pela fenomenologia, na qual se utilizou uma entrevista semiestruturada, realizadas com duas mães que perderam seus filhos por meio do suicídio e que, voluntariamente, foram colaboradoras desta pesquisa. As entrevistas foram gravadas, transcritas, fez-se uma síntese de cada uma delas, que foram conferidas pelas respectivas colaboradoras, e dessas sínteses confeccionou-se uma síntese global, a partir da qual, por meio de aspectos variantes e invariantes, fez-se um exercício de apreensão da “estrutura geral do vivido”. Do ponto de vista ético, o método foi todo pensado e realizado considerando duas questões: como ouvir essas mães sem violentá-las tanto? O que fazer caso isso ocorresse? Como aspectos invariantes foram depreendidos: „Omissão da morte., „Tensão entre falar e silenciar sobre a morte do filho., „Busca do „porquê. da morte do filho., „Sentimento de responsabilidade pela vida/morte do filho., „Sentimentos de culpa e impotência., „A questão da religião/religiosidade como recurso para lidar com a perda. E como aspectos variantes foram depreendidos: „Ser ou não mãe biológica., „Quem encontrou o corpo do filho., „Profissão., „Tempo de luto., „Relação entre compreensibilidade do suicídio e doença orgânica.. Do diálogo entre sentidos do suicídio e os múltiplos sentidos da palavra sentido, depreendeu-se que a concepção de sentido para a fenomenologia se apresenta como noção abarcadora da complexidade demandante do tema suicídio. Identificaram-se graus de semelhanças e diferenças nas relações entre aspectos invariantes e variantes e as interpretações epidemiológicas provenientes da literatura consultada. As produções epidemiológicas não têm sido suficientes, do ponto de vista interventivo/preventivo, para lidar com a questão do suicídio. Concluiu-se que incompreensibilidade, imprevisibilidade, impotência e irreversibilidade da morte foram os aspectos mais essenciais dos sentidos da morte voluntária dos próprios filhos na percepção das mães entrevistadas. Esses sentidos não se apresentam, considerando as racionalidades científicas e filosóficas atuais, de forma claramente inteligível e racionalmente categorizável, mas são compreensíveis do ponto de vista da sensibilidade e lógica intuitiva. Concluiu-se também que semelhanças e diferenças nas relações entre interpretações epidemiológicas e sentidos do suicídio devem ser pesquisadas mais em termos de graus do que de conteúdos. Entende-se ainda que a maioria das propostas interventivas/preventivas, baseadas no modelo epidemiológico, tendem a ser generalistas, não garantido precisão e nem condições éticas e metodológicas de avaliação de sua eficácia e eficiência. Afinal, tais interpretações em geral se apresentaram como descritivas e topográficas em relação às particularidades e sutilezas do impacto emocional que o suicídio de um filho desencadeia em uma mãe.