Nos últimos anos, o Brasil vem apresentando uma significativa alteração em sua composição socioeconômica, na qual camadas mais pobres da população passaram a ter um incremento da renda. A melhoria nas condições socioeconômicas deste contingente populacional representa uma profunda alteração social, com implicações nos padrões e níveis de consumo da sociedade brasileira. Este fenômeno ocorre em um cenário onde problemas ambientais ganham notoriedade pública e o discurso que preconiza a responsabilidade do Estado, das empresas e das organizações não-governamentais em solucioná-los passa a incluir o papel do indivíduo em suas práticas cotidianas, inclusive de consumo. A partir de exemplos reais de sujeitos que compõe o fenômeno de acessão das camadas populares brasileiras, buscou-se investigar se e como esses sujeitos se posicionam, sobretudo em relação aos seus hábitos de consumo, frente à nova moralidade estabelecida pelo discurso do consumo sustentável. Os investigados foram selecionados mediante os critérios de renda, ocupação e potencial de consumo. A investigação contou com os métodos de observação participante e entrevistas individuais em profundidade e foi realizada com quatro unidades domiciliares situadas no bairro de Jacarepaguá, na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Foram tomados por base os comportamentos de consumo sustentável preconizados por instituições que, em tese, representassem os três setores da sociedade (Estado, mercado e sociedade civil). O estudo revelou que tais comportamentos se confrontam com as concepções que os sujeitos possuem do que vem a ser normalidade, especialmente no que tange à limpeza, ao conforto, à praticidade e à dedicação para com a família. Somados, tais fatores prefiguram-se como primordiais e limitam a adoção dos comportamentos individuais tidos como sustentáveis.