Amostras de um aço IF (Interstitial Free) estabilizado ao titânio, com secções
transversais quadradas foram deformadas via prensagem em canais equiangulares
(Equal Channel Angular Pressing ECAP). O material, constituído por uma fase
ferrítica dúctil, possuía inicialmente tamanho de grão médio da ordem de
55,0 ± 6,0 μm, textura fraca e aleatória e uma fração de contornos de baixo ângulo
de 5%. O ensaio ocorreu a temperatura ambiente e sob taxa de deformação
constante (~10
-2
/s) em 2 passes, utilizando as rotas A e C. A matriz adotada possuía
ângulo de intersecção entre os canais (Φ) de 90º e raio de adoçamento externo de 5
mm. Logo após a deformação, o material foi recozido a 800ºC durante 1, 5, 10, 15,
20, 30, 35, 45, 50, 60, 90 e 120 min. A caracterização microestrutural foi realizada
com o auxílio das técnicas de microscopia ótica (MO) e eletrônica de varredura
(MEV). Para a caracterização da textura cristalográfica foi utilizada a técni ca de
difração de elétrons retroespalhados (EBSD). A técnica de difração de raios X e
medidas de dureza Vickers foram empregadas para a determinação da energia
armazenada após a deformação e o posterior recozimento. Após o primeiro passe
de deformação foi verificado um aumento significativo no valor da fração de
contornos de baixo ângulo, passando de 5% para 89%, bem como uma elevação da
energia armazenada medida por difração de raios X, alcançando valores de
10,3 J/mol para o plano (110) e 7,9 J/mol para o plano (211). A microestrutura
apresentou componentes ideais típicas em ECAP pertencentes às fibras <111>θ e
{110}θ, entretanto os grãos ainda apresentavam uma característica grosseira. Após o
segundo passe de deformação a energia armazenada atingiu uma saturação,
apresentando valores praticamente idênticos aos valores alcançados no primeiro
passe. A microestrutura resultante da aplicação da rota A era formada por grãos
alongados e com uma inclinação de aproximadamente 20º em relação à direção de
prensagem. Já a microestrutura obtida pela rota C se caracterizou pela presença de
grãos parcialmente equiaxiais que continham em seu interior uma subestrutura ainda
constituída de subgrãos alongados, a qual se deve a estabilidade dos subcontornos
gerados durante a deformação. Após 1 min de recozimento, a microestrutura sofreu
alterações apenas no nível de rearranjo de discordâncias, caracterizando um
processo de recuperação. As mudanças mais significativas se deram após 5 min de
recozimento, ao verificar-se a ocorrência de 95% de recristalização da
microestrutura sem a detecção de um período de incubação anterior e nesta etapa
também foram identificados vestígios das componentes de textura pertencentes às
fibras <111>θ e {110}θ. Por esta razão, não foi possível estabelecer o tipo de
nucleação que ocorreu no material. Os resultados permitem afirmar que o aço IF
estabilizado ao titânio deformado via ECAP e posteriormente recozido sofreu um
processo de recristalização contínua, com os tamanhos de grão alcançando um
estado quase estacionário no intervalo de tempo entre 5 e 120 min independente da
rota de deformação adotada.