Este trabalho tem como proposta analisar a relação dialógica entre a literatura e sua ilustração, a fim de evidenciar a criação do imaginário formado acerca do povo negro-mestiço, das tradições, da mística que envolve a Cidade da Bahia, com o seu sincretismo religioso, fé e festas populares. Esse cruzamento discursivo dá origem a outras formas de leitura, interpretação, servindo para o entendimento de aspectos singulares acerca do variado universo mítico-religioso e cultural do lugar. Tomamos como exemplo a edição ilustrada de Bahia de Todos os Santos: guia de ruas e mistérios, de Jorge Amado, edição de 1977, que conta com os desenhos de Carlos Bastos. A abordagem é interdisciplinar porque a intenção do escritor era construir um painel artístico, histórico-cultural e humano da urbe baiana, por isso foram utilizadas diversas fontes de conhecimento, de linguagens artísticas, a fim de compreender um imaginário, gestado na realidade e na invenção. A cidade é amplamente divulgada quando o escritor se propõe a mostrá-la para uma turista imaginária, para que ela venha a conhecê-la em sua concretude. Por tais aspectos, o texto parece configurar um guia turístico, contudo, a sua característica lírica, entremeada ao mistério, permite constatar a sua qualidade ficcional. Além disso, a obra é um testemunho histórico-cultural, por discutir questões do passado e das que são prementes para a década em que o guia foi atualizado, visto que a cidade do Salvador se urbanizou ao longo do século XX e com ela cresceram problemas de caráter social e econômico.