Objetivo: Identificar as mudanças ocorridas no perfil de morbidades relacionadas à síndrome metabólica (SM) entre os indígenas Khisêdjê adultos e idosos, residentes no Parque Indígena do Xingu, ao longo do período de 1999-2000 a 2010-2011. Métodos: Trata-se de um estudo epidemiológico, de delineamento do tipo transversal seriado (realizado em 1999-2000 e 2010-2011), que possibilitou o cálculo da medida de incidência acumulada. Ambos foram realizados na aldeia Ngôjwêre. Foram convidados a participar da pesquisa todos os indivíduos de ambos os sexos e com idade ≥20 anos da etnia Khisêdjê ou residentes nas aldeias da área de abrangência do Polo Base Wawi do Distrito Sanitário Especial Indígena do Xingu (Mato Grosso/Brasil). Enquanto nos anos de 1999-2000 foram avaliados 86 indivíduos, nos anos de 2010-2011 foram avaliados 179; 78 indivíduos foram avaliados nos dois momentos da pesquisa. Utilizou-se um formulário padrão para coleta dos dados. A coleta das medidas antropométricas seguiu os procedimentos recomendados pela World Health Organization em 1995. Na mensuração da composição corporal, foi utilizado aparelho de impedância bioelétrica modelo tetrapolar. Para identificação da SM e de seus componentes, foram adotados os critérios diagnósticos propostos, por Alberti e colaboradores em 2009. A síndrome metabólica foi definida pela presença concomitante de pelo menos três alterações metabólicas: obesidade central, intolerância a glicose, hipertensão arterial, hipertrigliceridemia ou baixo HDL colesterol. O programa Stata foi adotado em todas as etapas da análise. Resultados: A avaliação realizada, em 2010-2011, possibilitou a identificação de uma população que se encontra em elevado risco metabólico e cardiovascular, uma vez que se constatou 30,7% de SM. A comparação dos dados de 1999-2000 com os de 2010-2011 evidenciou deterioração no perfil das morbidades relacionadas à SM, sendo que os principais prejuízos verificados foram o aumento das prevalências de excesso de peso de 37,2% para 48,0%; de hipertensão arterial de 3,6% para 25,1%; de diabetes mellitus de 1,3% para 3,9%; e de hiperuricemia de 5,2% para 15,1%. No que se refere à composição corporal, os dados sugerem que a presença de excesso de peso esteja associada à maior quantidade de massa muscular. A avaliação, concomitante, de alguns indivíduos possibilitou ainda identificar, em 10 anos de seguimento, a incidência acumulada de 37,5% de SM; 47,4% de hipertrigliceridemia; 38,9% de hipertensão arterial (HA); 32,0% de obesidade central; 30,4% de excesso de peso; 29,1% de hipercolesterolemia; 25,0% de baixo HDLc; 10,4% de elevado LDLc; e 2,9% de diabetes mellitus (DM). A idade se mostrou um fator de risco para incidência de HA, DM e elevado LDLc, independente do sexo; ser do sexo masculino foi fator de proteção para incidência de obesidade central, independente da idade. Conclusões: Identificou-se deterioração de grande parte dos indicadores de saúde avaliados, estando os Khisêdjê expostos a elevado risco cardiometabólico. Esse resultado pode estar relacionado a alterações no estilo de vida tradicional.