Objetivos: avaliar em crianças e adolescentes as relações entre quatro variáveis associadas à asma: valores da fração exalada de óxido nítrico (FeNO), função pulmonar, resposta broncodilatadora (RB) e o nível de controle da asma; descrever os valores da FeNO neste grupo de asmáticos e estudar a influência de variáveis clínicas, demográficas e funcionais.
Métodos: avaliação transversal de 147 crianças e adolescentes com asma, acompanhados em serviço de referência com mensuração dos valores da FeNO, espirometria, RB, questionário de controle da asma (ACT ou C-ACT) e dados clínicos.
Resultados: a mediana de idade foi de 12,2 anos (6 a 18 anos) e 92 eram do sexo masculino. A mediana do intervalo desde a última crise foi três meses. A mediana do escore z de IMC foi 0,73z e 122 pacientes apresentavam alguma doença associada, predominando a rinite alérgica (101 pacientes) e a dermatite
atópica (42 pacientes). Noventa e nove pacientes estavam em uso regular de medicação de controle da asma por pelo menos um mês. Setenta e três (50%)pacientes apresentaram alguma alteração nos valores da função pulmonar e 34(24%) pacientes apresentavam RB positiva (incremento ≥ 12% VEF1). Asma não controlada (ACT ou C-ACT ≤ 19) foi encontrada em 45 (31%) casos. No grupo total de asmáticos, observamos correlações moderadas entre as variáveis apenas para os valores da RB e: VEF1 (r= -0,46), VEF1/CVF (r= -
0,44) e FEF25-75% (r= - 0,33). Entre os pacientes do grupo sem tratamento de controle, os valores da FeNO se correlacionaram significantemente com os valores de VEF1/CVF (r= -0,34), FEF25-75% (r= -0,34) e ACT/C-ACT (r= -0,25). As correlações observadas entre as variáveis no grupo com tratamento regular e controle da asma foram, de modo geral, mais fracas do que as observadas no grupo sem tratamento. Neste grupo, os valores da FeNO correlacionaram-se significantemente apenas com os valores de VEF1/CVF (r=-0,18). Os valores da FeNO variaram de 1ppb a 196ppb (mediana 29,9ppb) e valores alterados (> 25ppb) foram encontrados em 81 (55%) pacientes. Aqueles em uso de medicação regular de controle apresentaram menores valores da FeNO dos que os sem (mediana: 23,5ppb vs 37,0ppb; p=0,006). Os valores da FeNO se correlacionaram significativamente com o tempo desde a última exacerbação de asma (r= -0,24; p=0,02) e com a idade (r= 0,19; p=0,009). Os pacientes, quando separados de acordo com as etapas de tratamento da GINA, apresentaram valores da FeNO significativamente diferentes entre si (p=0,04). Os pacientes com alteração da função pulmonar apresentaram maior RB (mediana: 9% vs 5%; p<0,01) e piores valores de
ACT/C-ACT (mediana: 20 vs 22; p=0,01). Os pacientes com RB positiva apresentaram valores menores de VEF1 (mediana: 76% vs 95%; p<0,001), da relação VEF1/CVF (mediana: 76% vs 90%; p<0,001) e do FEF25-75%
(mediana: 59% vs 88%; p<0,001) em comparação aos sem RB positiva. Os valores da FeNO foram maiores nos pacientes com RB positiva (mediana:45,3ppb vs 25,4ppb; p=0,01). Os pacientes com asma não controlada
apresentaram maior RB (mediana: 8% vs 5%; p=0,01), mas sem diferenças nos valores da FeNO e de função pulmonar.
Conclusões: FeNO, função pulmonar, RB e escore de controle da asma são variáveis sem fortes correlações entre si, provavelmente por constituírem diferentes domínios da doença. A correlação
dos valores da FeNO com estas variáveis foi mais forte nos asmáticos sem tratamento de controle instituído. Os valores da FeNO apresentaram grande variabilidade e se correlacionaram positiva e significativamente com a idade, negativa e significativamente com o tempo desde a última exacerbação.