Introdução: A exposição dos recém-nascidos a estímulos nociceptivos durante sua permanência nas unidades de cuidado intensivo em período crítico de seu neurodesenvolvimento pode causar modificações definitivas no processo somatosensorial da dor, as quais são influenciadas por variáveis como a idade gestacional e a gravidade das morbidades do recém-nascido. Quando se consideram as diferenças estruturais e funcionais do cérebro entre o sexo masculino e feminino ao nascimento, este poderia ser um fator com relevância clinica na suscetibilidade do sistema nervoso central aos estímulos nociceptivos durante o período neonatal. O fato de os estímulos nociceptivos apresentarem-se em estruturas anatômicas diferentes poderia ter consequências diferentes e clinicamente relevantes na percepção da dor. Objetivo: analisar as diferenças na expressão de dor entre recém-nascidos (RN) femininos e masculinos em resposta a um estímulo nociceptivo agudo nas primeiras horas de vida. Método: estudo transversal e cego, com coleta prospectiva de dados de 400 RN (200/sexo) saudáveis, a termo, nas primeiras 6 horas de vida, submetidos à injeção intramuscular de Vitamina K. A frequência cardíaca (FC), a saturação de oxigênio (SatO2) e três escalas validadas de avaliação da dor neonatal (Neonatal Facial Coding System – NFCS, Behavioral Indicators of Infant Pain – BIIP e Premature Infant Pain Profile – PIPP) foram estudadas antes do procedimento, durante a antissepsia, durante a injeção e dois minutos após. Os resultados entre os sexos foram comparados por ANOVA para medidas repetidas (MR) ajustada para idade gestacional (IG), horas de vida, Apgar no 5º minuto e parto, sendo significante p<0,05.
Resultados: Os neonatos tinham, em média, idade gestacional de 39+1semanas, peso ao nascer 3169+316g, idade pós-natal 67+45 minutos, 65% nasceram por cesárea e a mediana do Apgar de 5 minutos foi 10.
A ANOVA-MR ajustada para FC, SatO2, BIIP e PIPP foi significante para o efeito tempo, mas não para o sexo nem para a interação tempo e sexo. Quanto à NFCS, os efeitos tempo (p<0,001), sexo (p<0,05) e a interação tempo e sexo (p<0,03) foram significantes. A construção de contrastes mostrou que esta diferença ocorreu durante a injeção.
Conclusão: recém-nascidos a termo e saudáveis femininos expressam mais movimentos faciais relacionados à dor durante um estímulo nociceptivo agudo nas primeiras 6h de vida, comparados aos masculinos.