Este trabalho buscou atualizar o conhecimento da fauna de lagartos da Amazônia brasileira, sua distribuição dentro do bioma e o hábitat onde foi registrado, em vista do crescente esforço de investigação ocorrido na última década, além da implantação de diversas coleções científicas regionais nos estados envolvendo a Amazônia legal. A partir deste banco de dados, partiu-se da premissa que os modelos de distribuição de espécies permitiram obter a distribuição de riqueza de espécies no bioma, para então avaliar-se a eficiência do desenho de unidades de conservação da Amazônia brasileira para o grupo de lagartos, a partir da riqueza e das distribuições das espécies, analisadas caso a caso. No total foram analisados 158.651 exemplares de lagartos de 11 coleções visitadas, levantando 130 táxons de lagartos, pertencentes a 51 gêneros e 13 famílias. Dentre todos os táxons encontrados, 81 são endêmicos da região amazônica (62% das espécies), sendo 75 típicos de ambientes florestais e seis de enclaves abertos naturais. A família ymnophthalmidae apresenta a maior taxa, com 39 espécies florestais endêmicas. A riqueza de espécies variou entre uma e 44 espécies. A maior parte das
regiões mais ricas está vinculada ao sistema de drenagem de alguns dos principais rios amazônicos: 1) no alto Rio Juruá (estados do Acre e Amazonas), 2) junto às calhas do Rio AmazonasSolimões (no estado do Amazonas e extremo oeste do Pará), 3) do Rio Madeira (Rondônia e Amazonas), 4) no baixo Rio Tapajós, 5) e na meso região do Rio Xingu (Pará). Contudo, as regiões que possuem a melhor cobertura por Unidades de Conservação são: 1) a região de Oriximiná (estado do Pará), 2) o estado do Amapá, 3) a meso região do Rio Javari, 4) região entre os baixos Rios Japurá, Juruá e Jutaí (as duas
últimas no estado do Amazonas), 5) e baixo Rio Madeira (estados do Amazonas e Rondônia). Em contrapartida, a 1) meso região do Rio Solimões, 2) região entre os baixos Rios Negro e Solimões, 3) entre Belterra e Parintins, 4) meso região do Rio Xingu, 5) nordeste e sudeste do estado do Pará, 6) centrosul do estado de Rondônia, e 7) centronorte de Roraima, encontram-se quase completamente desprovidas de UC. A implantação de UC de Proteção Integral nessas regiões, assim como ao longo da Depressão do Rio Solimões e Depressão MédioBaixo Rio Amazonas interconectando
as já existentes, possibilitaria a proteção e manutenção da maior parte da diversidade de espécies conhecida para o grupo dos lagartos amazônicos.